Lula lidera o mundo enquanto enfrenta as velhas armadilhas de Brasília
Lula não foge do embate
Neste fim de semana, o Rio de Janeiro recebe a mais importante cúpula do BRICS+ já realizada: uma edição ampliada, com novos membros, novos temas e a clara ambição de remodelar a ordem global. E no centro está Luiz Inácio Lula da Silva, talvez hoje uma das poucas vozes do Sul Global com legitimidade, coragem e história para desafiar a lógica desigual do sistema internacional.
Enquanto a elite política brasileira tenta minar seu governo com sabotagens no Congresso, Lula não recua. Ele avança. E avança com um projeto que vai muito além das fronteiras do Brasil. Ao abrir a cúpula dos BRICS+, Lula mostra que é possível enfrentar as estruturas retrógradas de dentro e de fora ao mesmo tempo.
Enquanto prepara discursos sobre justiça climática, moeda alternativa ao dólar e governança global, Lula trava uma batalha doméstica por sobrevivência política. No Congresso, enfrenta derrotas sucessivas impostas por uma coalizão informal que vai do centrão fisiológico à extrema direita bolsonarista. O ambiente em Brasília é tóxico: vetos derrubados, pautas-bomba sendo votadas, pressões por liberação de emendas parlamentares escandalosas e até o risco de paralisia legislativa de temas centrais, como reforma tributária e investimentos em saúde e educação.
É nesse clima que o Brasil recebe os líderes do chamado BRICS+.
Um encontro histórico no momento certo
A 17ª Cúpula do BRICS acontece nos dias 6 e 7 de julho, no Rio de Janeiro, sob a presidência brasileira. Mais do que uma reunião de rotina, será um marco: o bloco agora reúne 10 países, incluindo pesos-pesados do petróleo (Rússia, Brasil, Emirados Árabes, Irã), da África (África do Sul, Egito, Etiópia) e da Ásia (China, Índia e Indonésia). São mais de 3 bilhões de pessoas representadas e uma nova geopolítica em formação.
Confirmaram presença líderes como Narendra Modi (Índia), Cyril Ramaphosa (África do Sul), Mohammed bin Zayed (Emirados) e Abiy Ahmed (Etiópia). Vladimir Putin participa remotamente, por razões conhecidas. E Xi Jinping enviará seu primeiro-ministro. Também não confirmou presença Abdel Fattah al-Sisi do Egito. De toda forma, o simbolismo do encontro é evidente: trata-se da maior tentativa já feita de articular um contraponto sério ao G7.
E o Brasil que estará no comando.
Desde terça-feira (30 de junho), os negociadores políticos do grupo voltaram a se encontrar, de novo no Rio, para alinhar compromissos sobre:
1. Saúde e combate à pobreza
- Fortalecimento da cooperação em saúde, com foco em doenças socialmente determinadas. O encontro consolidou a criação de uma Parceria para Eliminar essas Doenças, reforçando a importância da cooperação em vacinas e no acesso equitativo à saúde pública chathamhouse.org+7brics.br+7fanamc.com+7infobrics.org.
2. Governança da Inteligência Artificial
- Avançou-se em um acordo político para desenvolver um modelo ético e inclusivo de governança de IA, priorizando ferramentas que reduzam desigualdades, promovam acesso a tecnologias no Sul global e reforcem ações contra pobreza, lacunas na educação, doenças e mudança climática infobrics.org.
3. Financiamento e ação climática
- Assinatura de um compromisso inédito de financiamento climático solidário para países do Sul global. Prevê reformas nos bancos multilaterais, ampliação de financiamentos mais baratos e mecanismos para atrair capital privado ao desenvolvimento sustentável.
4. Institucionalização e cooperação estrutural
- O encontro também institucionalizou a cooperação entre os países do Sul, por meio da aprovação de um portfólio de 180 mecanismos de cooperação, abrangendo educação, infraestrutura, saúde, ciência e mudanças climáticas infobrics.org.
Agora, cabe aos líderes do bloco, na cúpula de 6 e 7 de julho, ratificar essas decisões e definir os próximos passos práticos.
Lula não foge do embate
Em Brasília, Lula enfrenta um Congresso dominado pelo fisiologismo, por setores que preferem sabotar o governo a construir um projeto nacional. A cada semana, novas derrotas legislativas são celebradas como vitórias por aqueles que, na prática, torcem pelo fracasso do país. O objetivo é claro: esvaziar o governo para enfraquecer sua legitimidade e preparar o terreno para a extrema direita voltar em 2026.
Mas Lula não aceita a chantagem. E está certo em não aceitar.
Sua saída não é o confronto pelo confronto, mas a ampliação da agenda. Ao assumir o comando do BRICS+ e projetar o Brasil como protagonista global, Lula faz exatamente o que se espera de um estadista em tempos difíceis: não se acovarda, não recua, não cede à mediocridade política. Ele mira mais alto.
Um Brasil que fala de igual para igual com o mundo
A agenda brasileira para a cúpula é ousada: desdolarização do comércio, financiamento climático para os países do Sul, regulação da inteligência artificial, combate à desigualdade global. São temas estratégicos que colocam o Brasil como articulador de um novo equilíbrio internacional, menos centrado no poder militar dos Estados Unidos (EUA), mais voltado à cooperação entre povos.
Que outro líder reúne a legitimidade de ter saído da pobreza, enfrentado a prisão política e voltado democraticamente ao poder com um projeto socialmente inclusivo? Não se trata apenas de carisma pessoal. Trata-se de coerência histórica.
A elite brasileira ainda não entendeu
Enquanto Lula é ouvido e respeitado em Nova Delhi, Johanesburgo,Pequim, Moscou, Paris, setores da elite política brasileira seguem presos a uma lógica colonial, onde o Brasil deve se submeter aos interesses do Norte, manter o “teto de gastos” e deixar tudo como está. Não suportam que um operário lidere cúpulas diplomáticas. Não toleram que o Brasil defenda os países africanos e árabes como parceiros estratégicos e não como beneficiários de caridade internacional.
A tensão entre o projeto global de Lula e a resistência doméstica é o retrato da batalha que ele trava. O que está em jogo não é só a governabilidade. É o modelo de país. E de mundo.
O que está em jogo no Rio
A cúpula dos BRICS+ é, ao mesmo tempo, uma resposta e uma aposta. Resposta ao modelo esgotado de Bretton Woods, às sanções unilaterais, à guerra comercial, à dependência financeira do dólar. E aposta em uma nova arquitetura global onde o Sul não seja apenas convidado. Seja protagonista.
Para Lula, não poderia haver palco melhor. Ele sabe que, diante da sabotagem interna, a política externa pode se tornar sua grande trincheira. Mas não como fuga e sim como reafirmação de um projeto de Brasil soberano, justo e respeitado.
Essa cúpula é mais do que um evento. É um gesto político. E, para quem sabe ler a história em movimento, está claro: o Brasil que Lula almeja se coloca do lado certo.
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