Lula III: o governo antissistema
Para uma parcela da população, o terceiro mandato de Lula estaria sendo percebido como parte do establishment
Tomando por verdade os resultados divulgados nesta semana por uma pesquisa do Instituto Paraná Pesquisas, realizada no estado do Pará, o segmento etário que pior avalia o governo do presidente Lula está concentrado, de maneira bastante significativa, na faixa entre 25 e 34 anos. Trata-se, evidentemente, de acordo com o mesmo estudo, do grupo menos propenso a votar por sua reeleição.
Esse segmento constitui parte expressiva do que se convencionou chamar de Geração Z — jovens-adultos que, segundo a obra Polarización, soledad y algoritmos – Una radiografía de las nuevas generaciones, de Antoni Gutiérrez-Rubí, se mostram infelizes, desencantados, pessimistas em relação ao futuro e em confronto com o sistema. Um verdadeiro potencial mobilizador, acredito.
Ao me deparar com a pesquisa e com o texto de Gutiérrez-Rubí, fiquei refletindo sobre o que pode estar levando o governo Lula — e o próprio presidente, enquanto liderança — a ter números tão ruins entre esses jovens. Que sinal trocado estaria sendo emitido? Ou que mensagem essencial não estaria chegando?
Entre as muitas possíveis respostas — que certamente estão sendo exploradas nas pesquisas qualitativas realizadas pelo governo —, uma ideia me ocorreu: para essa parcela da população, o terceiro mandato de Lula estaria sendo percebido como parte do establishment. O rosto visível, portanto, da frustração que os faz acreditar que terão uma vida adulta pior que a de seus pais. O responsável direto por sua dor, seu pessimismo e seu desencanto.
Talvez não baste dizer a esses jovens que o governo representa a ruptura com esse futuro sombrio que tanto os angustia. O ceticismo é grande demais para que apenas uma mensagem de esperança seja suficiente. Talvez seja necessário um movimento anterior: desfazer a imagem de que o governo Lula representa o status quo.
É aqui que entra um elemento importante da conjuntura: a recente votação no Congresso que derrubou o aumento do IOF — medida que recairia de maneira muito mais significativa sobre os mais ricos e instituições que, historicamente, pouco ou nada contribuem em impostos. A partir dessa votação, o governo e seu campo político, creio, tenha a oportunidade de se posicionar claramente como uma força antissistema, comprometida com rupturas reais e profundas com a ordem vigente — a mesma que, no fundo, é responsável pelo mal-estar generalizado que toma conta desses corações.
E o inimigo comum para dar sentido a esse debate parece bastante evidente. Está na hora de alguém dizer, não apenas a esses jovens, mas especialmente a eles, que tipo de banda toca a maioria dos parlamentares no Congresso Nacional. E colocar, com clareza, no RG político desses senhores e senhoras os parceiros ideológicos com os quais compartilham sua visão de mundo.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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