Lula em Buenos Aires: a ampla lista de diferenças com Milei vai de Cristina até Venezuela
Para evitar constrangimentos, o almoço dos presidentes do Mercosul não deverá ser realizado. O abismo político e ideológico entre Lula e Milei é evidente
O presidente Lula passará menos de 24 horas em Buenos Aires. Mas sua chegada, prevista para a noite desta quarta-feira, já gera forte expectativa na Argentina.
Lula participará da reunião dos presidentes dos países do Mercosul, na quinta-feira, quando receberá de Milei a presidência do bloco, no Palácio San Martin, equivalente ao Itamaraty. Os dois não se falam. O argentino jamais pediu desculpas pelos insultos contra o líder brasileiro. É esperado um encontro frio, protocolar, entre eles.
E já que falta sintonia, a diplomacia dos países do bloco discutia, nesta terça-feira, que “não era conveniente” a realização do almoço dos chefes de Estado do bloco e dos Estados associados.
Lula deverá retornar ao Brasil assim que a reunião terminar, por volta das 13 horas de quinta-feira. No governo brasileiro informam que Lula “bem que gostaria”, mas não deverá visitar a ex-presidenta Cristina Kirchner. Ela cumpre prisão domiciliar de seis anos e perpétua para ocupar cargos públicos.
Entre kirchneristas argumentam que Lula poderia apenas dar um “alô” para ela da rua, em frente à varanda do apartamento onde ela mora e cumpre o cárcere. No governo brasileiro lembram, porém, que Cristina só pode receber visitas, além de seus familiares, médicos e advogados, com a autorização da Justiça. Não há informações, até o momento, de que esse pedido tenha sido feito.
Mas além de Cristina Kirchner, alvo de insultos constantes de Milei, há outros assuntos que confirmam o abismo político e ideológico entre os dois presidentes. O governo Milei está defendendo que o Mercosul divulgue um comunicado conjunto “condenando a falta de direitos humanos” na Venezuela. O Brasil discorda da proposta apresentada nesta semana pelos argentinos entre os negociadores do bloco já reunidos em Buenos Aires.
Nos seis meses da presidência da Argentina no Mercosul – a presidência é semestral e rotativa –, o governo Milei colocou o foco nas questões econômicas e de segurança pública. Ignorou as pautas de direitos humanos e de inclusão social, como gênero, indígenas, e de cultura e de meio ambiente. A partir do momento em que o Brasil assuma a presidência do Mercosul, o objetivo será retomar as discussões ignoradas por Milei.
E se chegar a assinatura do acordo comercial com a União Europeia em dezembro. Talvez o acordo comercial seja o único tópico no qual Milei concorda com Lula.
A reunião em Buenos Aires contará com as presenças dos ministros da Fazenda, Fernando Haddad, do Planejamento, Simone Tebet, e das Relações Exteriores, Mauro Vieira. Além de Lula e de Milei, confirmaram presença os presidentes do Paraguai, Santiago Peña, simpatizante de Trump e de Milei; do Uruguai, Yamandú Orsi, que teve apoio de Mujica para ser eleito; e da Bolívia, Luis Arce.
Faltando pouco para a eleição presidencial boliviana e com o país vivendo crise política, econômica e social, a presença de Arce chegou a estar em dúvida. Com baixa popularidade, ele decidiu não ser candidato à reeleição ao Palácio Presidencial Queimado e foi contrário à nova candidatura de seu ex-aliado, o ex-presidente Evo Morales.
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