Hugo Motta e a Síndrome do Conciliador Cativo
O caso de Hugo Motta enquadra-se na patologia
O leitor e a leitora sabiam que o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, é médico? Sim, é médico. Não se sabe se algum dia exerceu a profissão com a mesma desenvoltura com que comanda o corpo parlamentar mais fisiológico e reacionário de que se tem notícia. Deputado federal desde 2011, então com 21 anos, vem sendo reeleito pela sua Paraíba, primeiro pelo MDB, ex-PMDB, depois pelo PRB, atual Republicanos.
Motta vende a imagem do liberal sempre aberto do diálogo, educado, bem penteado. Essa gente é um perigo, tanto mais quando segura nas mãos um belo naco do poder. A aparência janota e o discurso conciliador costumam camuflar potenciais tiranos, especialmente os formados na escola de Eduardo Cunha e Arthur Lira.
Não se pode abdicar da psicologia para analisar o comportamento daqueles que detêm poder, algo muito mais relevante do que vazar futricas de “bastidores”, palavrinha que faz jornalistas superficiais se acharem os tais, quando não passam de serviçais das fontes.
O psiquiatra Jerrold M. Post realizou estudos importantes sobre indivíduos obscuros alçados ao poder. Não que Hugo Motta se encaixe nas descrições abaixo, mas é uma possibilidade. Atirar pelas costas, afinal, não é conduta abonadora.
Post fundou o Centro de Análise de Personalidade Política da CIA. É autor de obras como "Dangerous Charisma: The Political Psychology of Donald Trump and His Followers" (2019) e "Leaders and Their Followers in a Dangerous World" (2004). Em sua avaliação, indivíduos que ascendem ao poder a partir da obscuridade e se tornam tiranos geralmente compartilham um tal de “narcisismo maligno”, distúrbio severo que beira a paranoia.
Esse narcisista combina senso inflado de importância com necessidade obsessiva de admiração. Quando contrariado, reage mediante humilhação ou vingança, nem sempre com atitudes toscas como as que marcaram Jair Bolsonaro no Executivo, mas frias e calculadas – um tirano parlamentar, sentindo-se ludibriado, age como Eduardo Cunha no processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff.
O caso de Hugo Motta enquadra-se na patologia denominada Síndrome do Conciliador Cativo, que caracteriza moderados que, para sobreviverem politicamente, se submetem à lógica autoritária de seus aliados.
Um exemplo acabado de conciliador cativo, além de Motta, é o ex-presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos Kevin McCarthy, que se apresentava como moderado e “homem do diálogo” dentro do Partido Republicano, tendo sido eleito com promessas de governabilidade bipartidária.
No exercício da presidência da casa legislativa, entretanto, fez repetidas concessões à extrema-direita trumpista para se manter no cargo, incluindo abertura de processo de impeachment sem provas concretas contra o presidente Joe Biden. McCarthy também permitiu que parlamentares extremistas ditassem a pauta e usassem o Congresso como palco de desinformação. Acabou destituído por seu próprio partido ao perder o controle de sua ala mais radical.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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