Governo coloca a faca nos dentes contra os oligarcas da Faria Lima
O objetivo dos bilionários não é apenas barrar o aumento do IOF, mas pavimentar a eliminação política de Lula em 2026
A decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de acionar o Supremo Tribunal Federal (STF) para garantir a validade do decreto do IOF escancarou o embate entre o Planalto e os mais ricos do país, materializados nos especuladores do sistema financeiro e na velha mídia corporativa.
“Brasil está cansado dessa conversa de cortar políticas sociais, congelar o salário-mínimo e sacrificar os aposentados”, disparou a ministra Gleisi Hoffmann (PT), responsável pela articulação política do governo.
Nos bastidores, Lula foi convencido de que o objetivo dos bilionários paulistas não é apenas barrar o aumento do IOF, mas pavimentar a eliminação política do petista em 2026 — e, junto com ele, o projeto histórico do PT.
A equação dos oligarcas inclui rejeição ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), mas sem abrir mão do bolsonarismo como ferramenta de poder. Para isso, o nome preferido da elite financeira é o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
O problema? Tarcísio ainda hesita. Ele sabe que trocar a reeleição praticamente garantida no estado por uma aventura presidencial exige garantias sólidas — começando pela ausência de Lula ou de um Bolsonaro familiar no páreo.
A leitura no Planalto é que, sem essa engenharia, a elite paulistana prefere seguir com sua receita tradicional: sufocar os direitos sociais, garantir o controle do orçamento e, de quebra, pressionar o governo por dentro — como fizeram no segundo mandato de Dilma Rousseff, com Joaquim Levy no comando do Banco Central.
Hoje, o alerta no Planalto é direto: os juros altos e a disputa pelo controle do Orçamento da União seguem como as maiores ameaças à reeleição do PT. No centro dessa tensão está Gabriel Galípolo, atual presidente do Banco Central, visto com desconfiança dentro do próprio governo por seu histórico de alinhamento aos interesses da Faria Lima.
O cenário externo também lança um recado. A surpreendente vitória de Zohran Mamdani, socialista e muçulmano, nas primárias democratas para prefeito de Nova York mostrou que há fôlego para candidaturas ancoradas na ampliação de direitos sociais — exatamente o que a elite brasileira tenta sufocar.
Para Gleisi Hoffmann, o Brasil não pode seguir empurrando a conta para os mais pobres enquanto os bilionários seguem blindados. “Isso não é debate sério sobre política fiscal; é defesa de privilégios e injustiças”, criticou, mirando diretamente a Faria Lima.
A ministra desmonta a farsa dos discursos sobre responsabilidade fiscal. Segundo ela, não são os investimentos sociais ou em infraestrutura que pressionam a dívida pública, mas sim a política de juros estratosféricos, que deve levar o Brasil a gastar R$ 1 trilhão apenas este ano com o serviço da dívida.
“É uma ciranda maluca, sem sentido, quando a inflação está abaixo da média dos últimos 30 anos”, denunciou Gleisi.
A proposta do governo, agora travada no Congresso, é simples: cobrar mais imposto de quem ganha muito, isentar quem recebe até R$ 5 mil e começar a reverter as isenções fiscais bilionárias que não geram empregos e apenas alimentam a desigualdade.
Mas o Congresso decidiu sustar o decreto do IOF, numa vitória parcial dos oligarcas — e o Planalto partiu para o contra-ataque no STF. A Advocacia-Geral da União (AGU) deve protocolar, nesta terça-feira (1º/7), uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) questionando a derrubada do decreto.
A alegação do governo é que definir as alíquotas do IOF é prerrogativa exclusiva do Executivo. Derrubar o decreto, segundo a AGU, afronta a Constituição e fere o equilíbrio institucional.
O caso está nas mãos do ministro Alexandre de Moraes, relator das ações sobre o tema. Antes mesmo do Planalto, o Psol já havia protocolado um pedido semelhante no STF. [Este caso será a prova definitiva para saber de que lado bate o coração de Xandão].
A crise, no entanto, não se resume aos tribunais. Em vídeo divulgado nesta segunda, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), reagiu à ofensiva do governo e criticou a narrativa de polarização social. “Quem alimenta o ‘nós contra eles’ acaba governando contra todos”, disse ele, num alerta velado ao Planalto.
A própria ministra Gleisi Hoffmann já tem uma resposta pronta para o discurso de Motta, que, outrora, já fora usado para responder ao senador Ciro Nogueira (PP-PI): a extrema direita teme “a polarização da vida real”.
A judicialização da crise do IOF é apenas o sintoma de uma disputa maior: a definição do futuro político e econômico do Brasil — e, com ele, o embate direto entre Lula, a Faria Lima e o projeto de país que estará nas urnas em 2026.
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