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Davis Sena Filho

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Francisco, a Igreja dos pobres, da paz, o estadista da fraternidade e inclusão

O Papa Francisco revolucionou a igreja por meio de paradigmas simples, como sempre foi em vida, mas revolucionários

Papa Francisco (Foto: Reuters)

“Ele nos ensinou a viver os valores do Evangelho com fidelidade, coragem e amor universal, especialmente pelos mais pobres e marginalizados. Com imensa gratidão por seu exemplo como verdadeiro discípulo do Senhor Jesus, encomendamos a alma do Papa Francisco ao amor infinito e misericordioso de Deus, Uno e Tribuno" --- Cardeal Kevin Farrell, na capela da Domus Santa Marta, ao anunciar a morte de Francisco.

O argentino Jorge Mario Bergoglio é o Papa Francisco, nascido em Buenos Aires, em 1936, e falecido na segunda-feira (21/04), às 2h35, horário de Brasília, no ano de 2025, no Vaticano.

A escolha de seu nome como Papa é devido a São Francisco de Assis, um dos santos mais respeitados e admirados da Igreja Católica pela humanidade, por sua dedicação aos pobres e desvalidos.

O Papa Francisco revolucionou a igreja por meio de paradigmas simples, como sempre foi em vida, mas revolucionários.

O religioso jesuíta dedicou-se aos pobres, aos marginalizados e perseguidos desde quando foi ordenado padre, razões pelas quais enfrentou ações e atos contenciosos por parte de grupos conservadores da sociedade, politicamente do campo da direita, primeiramente na Argentina, depois como Papa em termos mundiais.

Contudo, Francisco fez de seu Papado um instrumento revolucionário junto à Cúria Romana, o corpo administrativo da Igreja Universal, que o auxilia por intermédio dos Dicastérios, que funcionam como ministérios governamentais, que auxiliam o Santo Padre a governar a Igreja Católica ao redor do mundo.

Entretanto, como revolucionário que foi, a começar pela dedicação à proteção dos pobres, Francisco se reportou à humanidade de maneira incessante, em defesa da ecologia, do meio ambiente, a fundamentar esses interesses essenciais para a vida na Terra por meio de importantes documentos, que foram entregues a governos de inúmeros países e que também chegaram aos órgãos internacionais.

Por meio de suas Cartas Encíclicas e declarações proferidas dentro e fora do Vaticano, o Papa Francisco determinou à Igreja Católica que houvesse mais compreensão e respeito com as mulheres, os negros, os gays, os indígenas, os deficientes, os famélicos, os desempregados, os imigrantes, os exilados, os presidiários, os enfermos, e todos os seres humanos que por algum motivo estão sendo perseguidos ou colocados à margem das sociedades.

O Papa de pensamentos e ideias progressistas fez o contraponto a governantes de direita e de extrema direita, que propagaram o reacionarismo, a intolerância e a violência nas presidências da República e até mesmo nos regimes parlamentaristas neste retrógrado século XXI, apesar dos avanços tecnológicos, que se tornaram também por parte desses inúmeros grupos reacionários ferramentas de intimidação, mentiras e agressão, de maneira a concretizar seus interesses políticos, religiosos, econômicos, mercadológicos, geopolíticos e ambientais.

Francisco se tornou uma pedra no caminho dessas pessoas até dentro da Igreja Católica, a enfrentar poderosos adversários na Cúria Romana, mantenedora do status quo controlado por cardeais, arcebispos e bispos, de ideologia e crenças conservadoras, que sempre lutaram para que a Igreja Católica ficasse restrita aos seus dogmas, rituais e cerimoniais, que beneficiam uma casta eternamente no poder e dedicada a defender os interesses dos ricos, das classes privilegiadas e dominantes.

Porém, quando Francisco assumiu seu Papado e começou a governar, ele se apresentou ao mundo como um homem religioso e político, que foi eleito com grande maioria dos votos concedidos pelos seus pares cardeais, em um Conclave realizado na Capela Sistina, que já está na história, pois a Igreja Católica deu um "cavalo de pau" em suas ações, porque nas últimas décadas estava a ser governada por papas conservadores.

A verdade é que a intenção de Francisco, e ele pôs em prática, era abrir e democratizar a Igreja Católica à toda humanidade, e, consequentemente, torná-la de fato universal. Para quem não sabe, a palavra "católico" ou "católica" deriva do grego "katholikos", que significa "universal".

Por isso, o Conclave dos cardeais resolveu eleger um Papa progressista, que tirasse a Igreja de seu próprio círculo e escolhesse um cidadão do mundo, no sentido do acolhimento e, principalmente, de efetivar mudanças estruturais e de pensamentos que movessem a roda da humanidade em direção à paz, à compaixão e à fraternidade em prol da humanidade.

Todos esses conceitos foram colocados em prática, sempre em busca da tolerância, da igualdade e da proteção aos pobres, aos que podem menos, aos que não tem voz ativa, aos que são deixados de lado por causa do fundamentalismo financeiro dos mercados de capitais e do ultraneoliberalismo econômico, que brutalmente concentram riquezas e renda e, com efeito, geram pobreza e violência, retiram direitos e empobrecem as nações, que ficam de joelhos e relegadas à própria sorte, porque se deparam com uma encruzilhada de pesadelos, a terem a exclusão e a pobreza, de forma cruel, como destino perante o concerto das nações.

Francisco era da Ordem Jesuíta que por essência tem compromisso com os pobres, bem como levar uma vida simples, sendo que assim ele procedeu por toda sua vida, tanto no que é referente à sua alimentação, vestuário, moradia, transporte (público) quanto às questões de dinheiro e posses materiais. Depois de morto, praticamente não tem herança para deixar, a não ser lembranças e presentes individuais de valores simbólicos que recebeu durante o papado, além da herança de sua luta por igualdade e inclusão.

Quando atuava na Argentina, protegeu e abrigou perseguidos da sanguinária e trágica ditadura militar, que de 1976 a 1983 matou cerca de 30 mil pessoas, sendo que nove mil constam como desaparecidas, em uma repressão brutal, que denota um verdadeiro genocídio perpetrado pela direita e extrema direita daquele país, que durante o século XX e XXI atrasou o desenvolvimento do próprio povo  por causa de ideologia geradora de violência e, evidentemente, a terem como motivo maior o acúmulo de riquezas.

Literalmente uma parte da humanidade aposta na barbárie e na selvageria, porque efetivar o retrocesso é o modo de operar desse tipo nefasto de gente para que possa  acumular dinheiro e poder, e assim se locupletar na vida por incontáveis gerações de pessoas exploradoras do trabalho alheio, que, sem sombra de dúvida, aumentam seus poderes financeiros e, com efeito, continuam a manter influência junto ao poder público, inclusive com a cooperação policial e militar se for necessário.

É exatamente esse extrato social poderoso que o Papa Francisco enfrentou nos 12 anos de seu Papado, por meio de suas homilias, encíclicas, pregações, celebrações litúrgicas, missas e declarações referenciais à vida de Jesus Cristo diretas da janela do Palácio Apóstolico, de onde se visualiza os fiéis na Praça de São Pedro, no Vaticano.

Francisco foi um talentoso diplomata e um reformista convicto quanto às estruturas de um Estado Teocrático, cujo Papa é o líder máximo da Igreja ao mesmo tempo que é chefe de Estado.

Sabedor que para fazer as reformas era necessário combater os abusos sexuais contra menores praticados por alguns membros da Igreja, o que exigia também uma revolução moral, Francisco viajou para os lugares onde aconteceram os escândalos denunciados, a exemplo de Alemanha, Estados Unidos, Chile e Irlanda, e tomou as devidas providências.

Implantou a chamada "Tolerância Zero" e iniciou uma série de expulsões e renúncias de cargos e posições, no que diz respeito às hierarquias eclesiásticas e administrativas dentro e fora do Vaticano. O líder católico pediu oficialmente desculpas às vítimas e às famílias em nome da Igreja, em busca de reconciliação e perdão, que são palavras e atos de grandeza humana e próximas de Deus.

O Papa deu fim ainda ao "Segredo Pontifício" quanto aos crimes de pedofilia e ainda determinou, oficialmente, a obrigatoriedade para que os membros da Igreja --- religiosos e leigos --- denunciem qualquer crime nesse sentido que tenha ocorrido, além de criar plataformas para quem for vítima de ações ilegais possa reportar suas denúncias nas dioceses em todo o mundo.

Em suas 47 viagens ao exterior, Jorge Mario Bergoglio priorizou a visita às “periferias” do mundo, especialmente em países marginalizados do Leste Europeu, América Latina e África.

O primeiro Papa latino-americano da história foi um grande defensor do multilateralismo entre os países e denunciou incessantemente a guerra e o comércio de armas.

Além disso, defendeu o diálogo com todas as religiões, especialmente com o Islã, como demonstrou em uma visita histórica ao Iraque em 2021.

Também conseguiu um acordo inédito com o regime comunista da China, em 2018, sobre a delicada questão da nomeação de bispos. 

A diplomacia da Santa Sé também trabalhou para a reaproximação histórica entre Cuba e os Estados Unidos em 2014 e apoiou o processo de paz na Colômbia.

A Igreja de Francisco também se envolveu em vários conflitos regionais na América Latina e na África para favorecer o diálogo e concretizar acordos de trégua e de paz. No entanto, no caso da guerra na Ucrânia, iniciada com a invasão russa em fevereiro de 2022, não conseguiu chegar a um acordo, a um denominador comum.

A guerra entre Rússia e Ucrânia interrompeu a moderada e lenta aproximação com o Bispo ortodoxo Cirilo, o Patriarca de Moscou e toda a Rússia, com quem se reuniu em 2016, em um histórico primeiro encontro entre os dois líderes das Igrejas do Oriente e do Ocidente, desde o Cisma de 1054. Aconteceram divergências políticas, que acarretaram a suspensão das conversações.

Francisco foi um Papa acima da média na questão da caridade, pilar da Igreja Católica, que teve homens e mulheres em sua história que pagaram o preço da morte por se dedicarem aos pobres, perseguidos, desvalidos e injustiçados.

O Papa andou por favelas e periferias durante muitos anos, a levar apoio espiritual, os ensinamentos de Jesus, além de alimentos, medicamentos e roupas. A caridade como igreja que cada ser humano deste planeta tem dentro de si, porque a igreja não está nas construções edificadas ou nos príncipes e monarcas de instituições religiosas que enriqueceram por intermédio do Evangelho.

Príncipes que até nos tempos de hoje tripudiam e cometem escárnios e malfeitos por meio de suas vilezas em ações e mentiras diabólicas para viverem como reis ou sultões, mas com seus corações totalmente afastados de Jesus, que era pobre e, sobretudo, cuidava humildemente dos pobres, dos despossuídos, dos que passam fome e opressão.

A igreja está dentro de si --- de nós. A caridade e a compaixão são os pilares da existência que tornam o ser humano em busca de união pleno de fé e solidariedade, com a esperança transformadora sob o olhar de Deus e, por sua vez, viver a vida sem medo, em paz, até no momento de quando chegar a hora da morte.

Apoiador dos legítimos direitos das populações e de grupos sociais e étnicos que sofrem repressões, perseguições e preconceitos, Francisco tinha grande preocupação com o abandono de pessoas e por isso ainda em Buenos Aires promoveu refeições coletivas, de maneira constante e voltadas à solidariedade cristã.

O líder católico realizou 47 viagens ao exterior. Jorge Mario Bergoglio viajou para as periferias dos países os quais visitou e tratou de evidenciar os problemas enfrentados pelos povos e governos, que o trataram com respeito e o ouviram sobre suas preocupações, de maneira a deixar claro que todos homens e mulheres têm direito a uma vida digna, livre de violência, preconceito, exploração e intolerância.

Francisco visitou com afinco principalmente os países latinos-americanos, africanos e as nações do leste europeu, porque muitos de seus povos vivem em situações degradantes, seja por causa de política e ideologia ou por motivos relativos às crises econômicas, religiosas e raciais, que geram opressão e repressão, que fomentam violência, prisões, migrações forçadas de multidões, exílios e mortes.

Francisco combateu o comércio de armas com críticas contundentes, a considerar as guerras como terrores da humanidade, assim como alimentadoras do tráfico de drogas. 

Por isso, o primeiro Papa latino-americano da história bimilenar da Igreja Católica sempre foi um defensor ardoroso do multilateralismo, uma forma diplomática de incluir os países pobres e em desenvolvimento nas organizações governamentais em âmbito mundial, a firmarem acordos de cooperação, que permitam que os países atrasados se desenvolvam em todos os sentidos e, por seu turno, melhorem as condições de vida de seus povos. 

O G-7 é o clube dos ricos, de atuação elitista e sectária, sendo que é exatamente o G-7, dos sete países mais ricos do mundo, o responsável maior pela exclusão e pobreza da maioria dos povos. Esses países ricos são também os principais responsáveis pela brutal concentração de riquezas e de renda em termos planetários, sendo que ainda são os promotores de guerras desde os tempos coloniais.

O Pontífice do Vaticano defendeu, diuturnamente, o diálogo entre as religiões, a tratarem com tolerância e respeito às diferenças, porque para Francisco "todas as religiões levam a Deus". 

Outrossim, era importante para ele a comunicação com as lideranças religiosas muçulmanas e mandatários governamentais do Iraque, a antiga Mesopotâmia. Portanto, o líder religioso católico e chefe de estado com cerca de 1,5 bilhão de fiéis em todo o mundo resolveu viajar em 2021 para o Iraque e ao estar no histórico e milenar país do Oriente Médio conversou com inúmeras lideranças islâmicas, inclusive com o mais importante líder religioso xiita iraquiano, o Aiatolá Ali al-Sistani. 

Francisco sempre buscou consolidar o diálogo interreligioso, principalmente entre  muçulmanos e cristãos, duas das maiores e mais importantes religiões do mundo. Sua intenção era promover a paz e a coexistência pacífica no Iraque entre ambas religiões, porque o Iraque enfrentou inúmeras guerras e, por conseguinte, aconteciam intolerâncias que resultaram em violência contra a minoria cristã e até mesmo entre xiitas e sunitas.

Após a respeitosa visita do Papa a Bagdá, as crises religiosas diminuíram bastante no país de maioria xiita e muçulmana, banhado pelos rios Tigre e Eufrates e considerado o berço da civilização por historiadores, pesquisadores e antropólogos.

Porém, não satisfeito, o Pontífice viajou à China, a fim de abrir uma nova frente de diálogo. Ele conseguiu firmar, em 2018, um inédito acordo com o governo chinês cujo regime é comunista. Com isso, o Papa deu fim aos desentendimentos sobre a nomeação de bispos e transferências de cidades, bem como diminuiu a pressão em cima dos chineses católicos. 

Em outubro de 2024, o acordo para nomear bispos entre a China e o Vaticano foi renovado. Por sua vez, os fiéis católicos chineses se sentem mais seguros quanto às pressões governamentais, porque esses fiéis eram obrigados a viver em uma situação difícil e ter de optar pela Igreja Patriótica, que tem o apoio do governo chinês ou participar de grupos clandestinos ligados religiosamente ao Vaticano. 

A diplomacia da Santa Sé, sob os auspícios do Papa Francisco, aproximou Cuba e Estados Unidos em 2014, bem como participou ativamente da paz na Colômbia, quando os grupos guerrilheiros depuseram as armas e firmaram acordo com o governo colombiano e hoje disputam eleições livres e democráticas.

Poucos dias antes de morrer, o Papa Francisco criticou o presidente de extrema direita Donald Trump, um político que se contrapõe à comunidade internacional, que além de promover uma guerra tarifária unilateral e totalmente ineficaz, porque já recebe fortes retaliações econômicas e financeiras, ainda está a perseguir e reprimir milhões de imigrantes e a tratá-los como cidadãos sem direito à dignidade, sendo deportados e algemados pelos pés e mãos, bem como são destratados em solo estadunidense sem terem acesso muitas vezes à água e comida antes de embarcarem à força nos aviões lotados e plenos de indignação e humilhação.

Até agora bilionário Trump, um dos chefes do establishment mundial, que estimulou a violenta invasão do Capitólio em Washington, que causou cinco mortes e inúmeros feridos por não aceitar os resultados das eleições que ele perdeu para o ex-presidente democrata Joe Biden, que foi condenado pela Justiça, mas mesmo assim foi eleito, tem agido como sempre agiu em sua vida, de forma capciosa, sórdida, intolerante, venal e violenta.

Trump, do alto de sua montanha de dinheiro, arrogância e prepotência, ao receber críticas de um humilde padre que pertencia à Companhia de Jesus, por isto jesuíta compromissado com os pobres e os oprimidos, enviou ao Vaticano, no dia 19 de abril, o vice-presidente dos EUA, JD Vance, para conversar com Francisco e assim aparar arestas quanto às discordâncias em relação às ações criminosas e autoritárias do governo Trump contra os imigrantes e quem sabe talvez ouvir e aprender um pouco sobre dignidade humana, honra, decência e, quiçá, sobre os ensinamentos de Jesus Cristo.

Porém, o Papa estava convalescente e logo depois foi internado, para dois dias depois do encontro com o político estadunidense de um governo beligerante, sair deste plano e silenciar em seu leito de morte.

Francisco nomeou 150 cardeais (muitos de fora da Europa) em todo o mundo, mas 135 estão aptos a votar, sendo que desses 108 (80%) foram escolhidos por ele. O Papa garantiu a maioria dos cardeais que participarão do Conclave e por isso há chance de ser eleito um Papa progressista. Mas eleição é eleição e somente se saberá qual será o Papa a sentar no Trono de São Pedro quando as urnas forem abertas.

Durante o tempo de seu Primado, o Papa Francisco se dedicou às questões do meio ambiente, quando defendeu uma Revolução Verde e lançou a encíclica "Laudato Si" em 2015. Em 2020 defendeu a preservação da Amazônia, ouviu os indígenas e lideranças amazônicas e criticou os que por ganância e irresponsabilidade cometem o "pecado ecológico".

Para finalizar, o Papa Francisco não foi apenas um homem que liderou por 12 anos a Igreja Católica e cristã de maneira apenas a se importar com sua burocracia e cardeais influentes. O Sumo Sacerdote disse que desejava uma Igreja Católica aberta a todas as pessoas e povos. Francisco, na realidade, é um projeto de inclusão de ordem mundial para que a Igreja se aproxime das populações e retome com força sua vocação de acolher, principalmente os mais pobres, os oprimidos e os marginalizados, que estão à margem de uma vida digna e plena.

Por isso, a preocupação com a nomeação de cardeais fora de uma Europa já desenvolvida, com menos problemas sociais e com países como a Itália, França e Alemanha, nesta ordem, que historicamente sempre dominaram os Conclaves e elegeram papas, muitos deles distantes das demandas, necessidades, angústias e dores das populações da órbita mundial, naturais de países periféricos e geograficamente distantes das esferas de poder e decisão, a exemplo das sedes europeias da Igreja Católica.

O Pontífice se preocupou com a dignidade e a inclusão de pessoas LGTBQ+ ao pedir respeito às diversidades e a criticar preconceitos e violência contra esses grupos sociais. Francisco disse também ser a favor dos divorciados recasados, a demonstrar que a Igreja Católica tem de incluir e pertencer a todos, porque, de acordo com Francisco, todas as pessoas tem almas e por isso são iguais.

O Pontífice, agora morto, mexeu profundamente nas estruturas da Igreja Católica, a movimentou de forma a pavimentar suas ações no decorrer do século XXI, um século em que grupos conservadores e poderosos querem efetivar o retrocesso da humanidade em todos segmentos e setores, principalmente nos campos da política e da religião em pleno terceiro milênio.

Francisco abriu a Igreja às mulheres e deu o tom a Cúria Romana que não haveria retrocessos, porque as reformas estavam em andamento e se fortaleceram quando foi promulgada a nova Constituição de 2022, que efetivou a reorganização administrativa por meio dos Dicastérios (Ministérios) do Vaticano e, o mais importante, deu prioridade à evangelização, de modo a fazer a Igreja Católica ser mais próxima de seus fiéis, da população.

Outro problema de conotação grave foi quanto à corrupção e aos escândalos financeiros no Banco do Vaticano. Francisco meteu a mão na massa e combateu firmemente a corrupção e nomeou pessoas de sua confiança para sanear o importante banco. 

O Papa criou, em 2014, o Secretariado para a Economia, que afastou dirigentes e funcionários envolvidos com malfeitos, estabeleceu regras rígidas para investimento e efetivou medidas anticorrupção, além de serem fechadas cinco mil contas bancárias.

 Em apenas 12 anos, tempo curto em termos de um Papado, Francisco revolucionou com suas reformas que ainda estão em andamento e terão continuidade se o novo Sumo Sacerdote eleito pelo Conclave for progressista. Francisco foi antes de tudo um Pastor na acepção da palavra, dedicou-se ao Evangelho e cuidou com zelo e coragem dos pobres, dos famélicos, de toda as minorias, das mulheres, combateu ditaduras, inclusive a argentina, protegeu e defendeu os imigrantes, os oprimidos e perseguidos e, pouco tempo antes de morrer, pensou nas dezenas de milhares de mortos e feridos de Gaza, massacrados por uma guerra colonialista, racista e de caráter genocida, bem como lembrou das crianças palestinas e pediu paz, compaixão, misericórdia --- amor. É isso aí.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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