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Marcelo Auler

Marcelo Auler, 68 anos, é repórter desde janeiro de 1974 tendo atuado, no Rio, São Paulo e Brasília, em quase todos os principais jornais do país, assim como revistas e na imprensa alternativa.

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Expectativas de uma visita à China pela ABI

'Entenderemos como o cidadão chinês vê o papel do seu país mundialmente, de que forma isso chega ao seu conhecimento e como o beneficia', escreve Marcelo Auler

Bandeira chinesa (Foto: REUTERS/Florence Lo)

Em uma experiência única, com a colega Jamile Barreto estaremos representando a centenária Associação Brasileira de Imprensa – ABI no Fórum de Jornalistas da Iniciativa Cinturão e Rota (BRJF) de 2025, na província de Jiangxi, no sudeste da China, entre 14 e 20 de julho. Iremos como membros do Conselho Deliberativo (CD) neste que será o terceiro fórum com representantes da imprensa de diversos países do mundo para o qual nossa entidade foi convidada.

Será uma oportunidade enriquecedora e, ao mesmo tempo, esclarecedora. Afinal, como especifica o convite da ACJA – All China Journalists Association (Associação de Jornalistas de Toda a China), organizadora do evento, teremos a oportunidade de obter “insights valiosos sobre as mais recentes conquistas da China nas áreas de economia, ciência e tecnologia, conservação ecológica, proteção ambiental e patrimônio cultural”. Ou seja, conheceremos mais detalhes do processo de desenvolvimento de uma nação já reconhecida mundialmente como a locomotiva da nova economia mundial.

No encontro com profissionais da comunicação de diversos países a expectativa é de debatermos os desafios contemporâneos da informação e a cooperação internacional no campo da comunicação no mundo atual. Discutir os desafios que surgem a partir do chamado mundo digital e das redes sociais, sem perder de vista a defesa da liberdade de imprensa.

Nossa participação como representantes da ABI se insere no contexto da aproximação com a ACJA que culminou com o ingresso da nossa Casa do Jornalista na International Home of Journalists – IHF (Casa Internacional dos Jornalistas) no ano passado.

ACJA & ABI aproximação desde 2023

Essa aproximação se iniciou em 2023 (12 a 25 de julho), na primeira participação da ABI nesses fóruns. Na ocasião, ela foi representada pela também titular do CD, Camilla Shaw. O encontro foi organizado pelo Instituto de Estudos Internacionais e Formação Avançada, Grupo de Comunicações Internacionais da China. No Seminário para Oficiais de Jornalismo e Jornalistas dos Países da Língua Portuguesa houve a participação de delegações de profissionais de imprensa de países lusófonos, como Brasil, Angola, Guiné-Bissau, Cabo Verde, Portugal, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor.

No ano seguinte – 2024 – a ABI foi representada pelo seu diretor de jornalismo, Moacir Oliveira Filho – o Moa – e a conselheira Maria Luisa Ribeiro de Castro Fernandes – Malu. Eles estiveram com 92 jornalistas (de 47 países) além de 80 jornalistas e dezenas de pesquisadores e dirigentes do Partido Comunista da China. Coube a Mo Gaoyi, diretor do Departamento de Publicidade do Comitê Central do Partido Comunista da China, presidir a sessão de abertura.

Nessa ocasião foi que a ABI, através de Moa, recebeu o Certificado de Membro do International Home of Journalists – IHF, entregue pelo presidente da Associação de Jornalistas de Toda a China – ACJA, He Ping, tal como reportado em ABI participa do Fórum de Jornalistas do Cinturão e Rota, em Chongqing, na China, e é admitida como membro do IHJ.

A IHF (Casa Internacional dos Jornalistas) foi criada pela ACJA junto com diversas associações de jornalistas estrangeiros. Serve como elo entre a China e jornalistas de outros países. Ao admitir a ABI como membro do IHJ, Ping destacou a necessidade de a mídia mundial se alinhar às tendências de paz, desenvolvimento, cooperação e benefícios mútuos. Pediu ainda esforços conjuntos para construir novas estruturas narrativas e modos de expressão que “transcendam ideologia, sistemas sociais e níveis de desenvolvimento”.

Como consequência direta dos encontros que Moa e Malu mantiveram na China, em novembro do ano passado, Zhao Wujun, diretor da Organização Internacional de Comunicação da China Ocidental (WCICO), oficializou, num evento em São Paulo, o primeiro escritório no Brasil do Bridging News Liaison Office no Brasil, entregando uma placa à ABI. Trata-se de um canal de mídia financeira, da WCICO, dedicado a fornecer informações no exterior. O escritório brasileiro, que vai funcionar na sede da ABI, no Rio de Janeiro, é o terceiro aberto no mundo. Os anteriores são os de Roma, na Itália, e Lima, no Peru. “Esta nova estação desempenhará um papel fundamental no suporte a notícias para empresas chinesas que buscam estender seu alcance no Brasil”, explicou, na época, o diretor de Jornalismo da ABI.Ainda em continuidade às conversas ocorridas na China em 2024, em especial com Nicolas Zhang, diretor de Assuntos Asiáticos, Africanos e Latino-Americanos da ACJA, no último dia 16 de junho uma delegação chinesa tendo à frente a secretária-executiva da Associação de Jornalistas de Toda China, Wu Xu, visitou a ABI no Rio.

Na ocasião a secretária-executiva da ACJA e o presidente da ABI, Octávio Costa, assinaram um Memorando de Entendimento de intercâmbio entre as duas entidades, com o objetivo de aprofundar o entendimento mútuo, a comunicação e a colaboração entre profissionais de mídia dos dois países, como noticiado em ABI assina Memorando de Entendimento com a ACJA de intercâmbio entre as duas entidades.

Encontros são frutos do Projeto Cinturão e Rota

Os encontros de jornalistas na China passaram a ocorrer a partir do destaque que o país vem conquistando desde o lançamento, em 2013, do Projeto Iniciativa Cinturão e Rota (em inglês: Belt and Road Initiative – BRI). A partir da sugestão de se construir uma versão moderna da velha e milenar via de comércio e intercâmbio cultural que existiu entre a Ásia e a Europa no passado, o governo chinês impulsiona o desenvolvimento e a economia de diversos países, muitos dos quais situados no chamado “sul global”.

Não é preciso ser expert em geopolítica para admitir o papel que a China ocupa/ocupará no mundo. Como bem definiu um dos mais respeitados jornalistas brasileiros na área de economia, Luis Nassif, em “A autofagia política de fritar Haddad“, “toda a ordem econômica em torno do dólar está ruindo e o centro dinâmico da economia mudando-se para a Ásia. É um terremoto que torna impossível avaliar os desdobramentos”. Nessa mudança a China está em destaque.

Por tudo o que foi dito, o que se debateu e o que se assiste, a iniciativa gera verdadeiro intercâmbio em que todos os lados lucram. Não se trata de algo imposto por quem faz o investimento, mas um jogo de parcerias em que os diversos lados se beneficiam, inclusive, e principalmente, a própria China.

Ao verificarmos os investimentos realizados pelo governo chinês entre 2013 e 2024 – um valor acumulado de US$ 1,175 trilhão, com cerca de US$ 704 bilhões em contratos de construção e US$ 470 bilhões em investimentos não financeiros, conforme dados do Relatório de Investimentos da Iniciativa Cinturão e Rota da China (BRI) 2024. A partir desse projeto constata=se, como explicou a conselheira Malu Fernandes no artigo A primeira ida à China a gente nunca esquece, que “a China precisa do mundo e o mundo precisa da China”. Fica, porém, a curiosidade de se verificar na viagem como tais investimentos retornarão em benefício aos chineses em geral.

Trata-se, portanto, de uma curiosidade inicial de quem está prestes a participar desse evento com dezenas de jornalistas: buscar entender os motivos de o governo chinês apresentar projetos para 149 países. Uma excelente oportunidade também para, através da troca de informações com os demais participantes, entendermos como a China é vista por esses outros jornalistas de diversos países que lá se reunirão.

O contato com os demais profissionais permitirá ainda debater o que minha companheira de viagem e colega na ABI, Jamile Barreto, pontuou no artigo ABI vai participar do Fórum de Jornalistas do Cinturão e Rota em Jiangxi na China. Como ela definiu, existe hoje “uma nova arquitetura da informação: mais multipolar, mais representativa, mais fiel à diversidade do mundo real. Descentralizar a comunicação é também descentralizar o poder”.

Por fim, mas não menos importante, e ainda que se tenha consciência de que nossa estadia em território chinês será relativamente curta e de certa forma limitada à província de Jiangxi, buscaremos entender como o cidadão chinês encara o papel que seu país vem conquistando mundialmente, de que forma isso chega ao seu conhecimento e como tudo isso o beneficia no seu dia a dia. São, portanto, curiosidades iniciais que espero serem respondidas nos sete dias dessa visita agendada.

 

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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