É "Justus" que os mais ricos paguem menos impostos do que os mais pobres?
O empresário e sua esposa terão que processar a maioria da população brasileira que já não aguenta mais tamanha desigualdade social
Após serem criticados nas redes sociais por postarem uma foto em família na qual a filha do casal, de apenas 5 anos de idade, exibia uma bolsinha avaliada em 14 mil reais, o empresário Roberto Justus e sua esposa, a influenciadora Ana Paula Siebert, gravaram um vídeo anunciando medidas judiciais contra o autor da postagem no "X", a página @poponze, e contra o professor universitário Marcos Dantas, que fez um comentário considerado ofensivo à filha do casal. Eles também justificam que a bolsinha em questão não foi comprada por eles, e é fruto de uma “publi” feita por Ana Paula para uma marca de acessórios.
Na postagem, o professor comenta que "só guilhotina" resolveria, referindo-se à questão da desigualdade social no país, numa referência à Revolução Francesa, na qual membros da nobreza e do clero foram decapitados durante uma revolta popular por justiça e igualdade social. A mesma guilhotina que também era utilizada para matar líderes revolucionários oponentes do sistema dominante. Por lógica capitalista, Justus e família compõem a "nobreza" brasileira que se vê acuada nesse momento em que uma mobilização popular se erige a favor da taxação dos super-ricos e contra os privilégios tributários da nossa elite burguesa.
O "nós contra eles", do qual o governo e a esquerda vêm sendo acusados de incitar na sociedade, não existe. Se há mesmo uma "guerra de classes" em curso, ela apenas representa a reação daquele que historicamente se viu oprimido e acuado diante do poder da nobreza brasileira: o povo. Os super-ricos e os milionários sempre estiveram contra a maioria da população, e sempre se articularam para que essa maioria fosse mantida sob opressão e à margem da dignidade social que apenas eles se julgam merecedores de desfrutar. O repúdio que eles manifestam contra as políticas de inclusão social, sobretudo o Bolsa Família, é uma prova disso.
O medo de Justus — e da nossa elite burguesa do atraso — é que, assim como na Revolução Francesa, o povo exerça a força que possui contra os seus opressores e promova justiça e igualdade social na marra, guilhotinando os privilégios daqueles que enriqueceram às custas da exploração da sua força de trabalho. Hoje em dia, a guilhotina a ser utilizada como instrumento de revolução social são as redes digitais, além, é claro, da mobilização popular nas ruas. Quando a esquerda finalmente parece ter acertado a mão no uso das redes para a luta política, a extrema-direita que vinha dominando esse território teve que apelar para a “obsoleta”, mas sempre alerta e disponível a salvar os mais ricos: a mídia tradicional.
Quando a preocupação com a “guerra de classes” é manifesta em pleno Jornal Nacional, com Renata Vasconcellos evocando o “medo” que Regina Duarte tinha de Lula nas eleições de 2002, sabemos que estamos no caminho certo. Enquanto o PIG tenta convencer o povo de que a esquerda quer jogar pobres contra ricos e fragilizar o ambiente democrático no país, a maioria desse povo desperta e se levanta contra a injustiça tributária que graça no Brasil e desgraça sua vida com valores de impostos proporcionalmente absurdos entre ambas as classes. Ao ver uma postagem em que um casal milionário expõe a própria filha de 5 anos de idade exibindo um acessório que custa sete meses de salário da maioria da população brasileira, eles incitam uma revolta pertinente e compreensível.
Não é o primeiro caso de ostentação de milionários nas redes sociais, assim como existem bolsas mais caras do que a exibida pela filha de Roberto Justus, que também já foram compartilhadas nas redes por outras “celebridades”. Inclusive — e, lamentavelmente — do campo progressista. E é bom que se diga que a criança não tem culpa da, digamos, falta de sensibilidade social dos pais nesse momento de revolta popular contra os privilégios tributários dos super-ricos. Eu diria que Justus foi um “aprendiz” ao não perceber que o clima não era favorável à exibição do poderio financeiro de sua família. Aliás, percepção social não é o forte do cantor de condomínio.
Em 2020, quando a pandemia de Covid-19 começava a assustar a todos, ele gravou um vídeo relativizando as 15 mil mortes até então registradas em todo o mundo e dizendo que a proporção delas em relação ao número de habitantes do planeta era ínfima. “15 mil mortes para 7 bilhões de habitantes, é um número muito pequeno”, dizia ele, enquanto minimizava as 25 mortes já constatadas no Brasil naquele período, alertava sobre o prejuízo que o isolamento social poderia causar à economia e avaliava que o país estava “exagerando na dose”, e que estávamos querendo “matar um pássaro com um tiro de canhão”. Um discurso bem alinhado com o do então presidente Jair Bolsonaro, que defendia que o vírus era só uma “gripezinha”. Tempos depois, vestiu uma camisa de malha branca e saiu por aí pedindo desculpas se alguém se sentiu ofendido com sua fala.
Encerro com uma frase atribuída a Napoleão Bonaparte que diz: "A religião é o que impede os pobres de matarem os ricos." No Brasil, sabemos bem qual segmento religioso tem feito esse trabalho “em nome de Jesus”, alienando pobres incautos e desmobilizando parte da população que é vítima da covardia tributária imposta. Empresários da fé, sob a alcunha de “evangélicos”, representam uma parcela dos super-ricos do país e tentam convencer os seus fiéis de que tudo é da vontade de Deus — até mesmo a injustiça tributária. E há quem creia nisso. O fato é que nenhum passo pode ser dado para trás, e todos os passos possíveis à frente, principalmente no apoio ao governo Lula, precisam ser dados. A hora é essa! Justiça tributária já!
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