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Jeferson Miola

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Com Trump no poder em 2022, militares teriam dado o golpe

"É ingênuo acreditar no profissionalismo e compromisso democrático das cúpulas partidarizadas das Forças Armadas"

Bolsonaro participa das comemorações do Dia do Exército, em Brasília (Foto: REUTERS/Adriano Machado)

Donald Trump ataca a soberania nacional e o Poder Judiciário do Brasil para pressionar a Suprema Corte a arquivar o julgamento do Bolsonaro e outros bandidos civis e fardados que tentaram o golpe de Estado.

É inacreditável o presidente dos Estados Unidos no papel de gângster que chantageia nosso país com tarifas para obrigar o STF a conceder a criminosos brasileiros o mesmo indulto que ele concedeu à horda fascista que invadiu o Capitólio em 6 de janeiro de 2021 para impedir a posse do seu adversário eleito presidente.

O gesto de Trump evidencia a associação orgânica da extrema-direita estadunidense com o bolsonarismo.

Considerando-se tal vínculo, o episódio permite inferir que se Trump estivesse no poder em 2022 e não Biden, as Forças Armadas brasileiras teriam recebido apoio estadunidense para avançarem o golpe.

Reportagem do jornal inglês Financial Times de 21/6/2023 revelou que as cúpulas militares só não viraram a mesa para impedir que Lula assumisse por falta de apoio dos EUA.

O veículo detalhou “uma pressão silenciosa de um ano pelo governo dos EUA para conclamar os líderes políticos e militares do país a respeitarem e protegerem a democracia”.

Michael McKinsley, ex-embaixador dos EUA no Brasil entre 2016 e 2018, uma das fontes da matéria, citou um “empenho muito incomum” que “durou quase um ano” e significou uma “campanha coordenada em várias ramificações do governo dos EUA, como os militares, a CIA, o Departamento de Estado, o Pentágono e a Casa Branca”.

O ex-Sub-secretário do Departamento de Estado e também ex-embaixador dos EUA no Brasil Thomas Shannon [2009 a 2013] informou que “o esforço começou com a visita do assessor de segurança nacional de Biden, Jake Sullivan” a Bolsonaro em agosto de 2021.

Sullivan se convenceu que “Bolsonaro seria totalmente capaz de manipular os resultados da eleição ou negá-los, como Donald Trump havia feito”. Em razão desta percepção, a Administração Biden decidiu aumentar a pressão sobre Bolsonaro e militares.

A reportagem menciona que no dia seguinte ao encontro do Bolsonaro com diplomatas estrangeiros para difamar a urna eletrônica [18/7/2022] o Departamento de Estado saiu em defesa do sistema eleitoral e das instituições brasileiras.

Uma alta autoridade brasileira afirmou à reportagem que aquele “endosso incomum” ao sistema de votação do Brasil “foi muito importante, especialmente para os militares. Eles recebem equipamentos dos EUA e fazem treinamentos lá, de modo que ter boas relações com os EUA é muito importante para os militares brasileiros. Por isso a declaração foi um antídoto contra a intervenção militar”.

Segundo o Financial Times, em 26/7/2022 o secretário de Defesa dos EUA Lloyd Austin advertiu os militares brasileiros sobre as consequências negativas caso perpetrassem o golpe.

A reportagem destacou ainda que a general-chefe do Comando Sul dos EUA Laura Richardson e o chefe da CIA, William Burns, também abordaram Bolsonaro e militares com o mesmo propósito.

Essa intensa movimentação de agentes da Administração Biden em 2021 e 2022 desencorajou setores das cúpulas militares e dividiu o Alto Comando do Exército – fator relevante para a detenção da intentona golpista.

Biden não fez isso porque os Estados Unidos respeitam a democracia e a soberania de outras nações, mas por cálculos circunstanciais e, talvez, devido à relação de Trump com Bolsonaro, que não reconheceu a eleição de Biden e celebrou o atentado ao Capitólio.

Se Trump estivesse na Casa Branca em 2022, Bolsonaro e as cúpulas militares teriam passe livre para executar o golpe e mergulhar o país numa ditadura cruenta.

É ingênuo acreditar no profissionalismo e compromisso democrático das cúpulas partidarizadas das Forças Armadas. O ex-chefe do Estado-Maior do Exército, general Fernando José Sant’Ana Soares e Silva, contestando a ampla percepção da sociedade do envolvimento institucional das Forças Armadas com o empreendimento golpista, afirmou em junho de 2023 que “nós, o Exército, nunca quisemos dar nenhum golpe”.

E complementou: “Tanto não quisemos, que não demos”. Sim, é verdade, porque desta vez faltou um Trump para que pudessem tomar de assalto o poder civil.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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