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César Fonseca

Repórter de política e economia, editor do site Independência Sul Americana

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Colapso capitalista americano leva Trump a guerra

"Para evitar o colapso, vão à guerra como solução eterna"

Presidente dos EUA, Donald Trump, no Capitólio, em Washington - 20/05/2025 (Foto: REUTERS/Ken Cedeno)

Os especialistas em história americana como o historiador diplomata brasileiro, na Alemanha, Luiz Alberto Moniz Bandeira, brizolista, ligado à internacional socialista, autor de “Formação do Império Americano”, mundialmente, respeitado, sempre destacou que o capitalismo americano vai à guerra quando as crises econômicas abalam a estrutura do sistema, aguçando suas contradições.

Para evitar o colapso, vão à guerra como solução eterna.

É como disse o primeiro ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, em agradecimento ao presidente Donald Trump por ter entrado a favor de Israel contra o Irã: “Primeiro a guerra, depois a paz”.

 

GUERRA, NOVO LINGUAGEM DO IMPERIALISMO

 

É a nova linguagem pragmática do imperialismo.

O Estado profundo americano, dominado pela guerra, o deep state se reuniu e enterrou a solução Trump de tentar acabar com a guerra por meio de medidas tarifárias.

Brincadeira neoliberal.

Seria retroceder à economia do século 20, válida no neoliberalismo, na economia de mercado, anterior à crise de 29.

O deep state deu a ordem: a guerra é a alternativa capaz de sustentar a reprodução capitalista ampliada gastos estatais, quando a opção é a guerra, como acaba de decretar o  presidente Trump.

 

ETERNO CONSELHO DE KEYNES

 

Os Estados Unidos seguem o conselho de Keynes, desde 1936.

O lorde inglês, maior economista do mundo, recomendou a Roosevelt: “Penso ser incompatível com a economia capitalista que o governo eleve os gastos públicos na escala necessária capaz de fazer valer a minha tese – a do pleno emprego –, salvo em condições de guerra. Se os Estados Unidos se INSENSIBILIZAREM para a preparação das armas, aprenderão a conhecer a sua força.” 

O General Eisenhower, ex-presidente americano, na guerra, considerado herói nacional, reconheceu, em 1960, que o poder americano está encarnado no estado industrial militar norte-americano.

O governo puxa a demanda global por meio da guerra, contratando serviços às indústrias armamentistas coordenadas pelo departamento de defesa.

Keynes era discípulo de Colbert, ministro de Luiz 14.

Para ele, “a dívida pública é o nervo vital da guerra”.

É ela que dinamiza o espaço econômico.

 

DISCURSO RASGADO

 

Trump  rasgou o discurso pretensamente neoliberal do equilibrismo orçamentário com o qual – com sua cabeça delirante neoliberal de Wall Street – imaginou dispor de todas as soluções.

Ele imaginou consertar a economia americana dominada pela financeirização com guerra tarifária.

Essa estratégia contrariou o poder militar norte-americano, segundo o conceito de Eisenhower de que a guerra é o germe da macroeconomia americana na linha de Keynes.

Economia de guerra!!!

É a guerra que fortalece o dólar, a moeda hegemônica da qual o império não abre mão. 

Trump passou a agredir o BRICS, justamente, porque enxerga na organização, fortalecida pela presença das aliadas China e Rússia, o principal adversário dos Estados Unidos a ser derrotado.

A desdolarização, palavra de ordem dos BRICS, é a ameaça que Trump mais teme.

A guerra, empurrada pela dolarização, para o poder do deep state, moderniza o parque produtivo americano e coloca os Estados Unidos na vanguarda da tecnologia e da produtividade mundiais.

Trump caiu na real e entrou na guerra para  salvar o capitalismo de guerra.

Como conseguiria ajudar Israel se tivesse que atuar com política protecionista tarifária inflacionária, a fim de reduzir déficit comercial diante da poderosa China?

Sua tentativa protecionista revelou-se surreal.

Impede a expansão da economia de guerra e afeta o poder do Estado Profundo, que, realmente, conduz os interesses dos Estados Unidos em termos geopolíticos.

Sem saída, para não acabar sofrendo impeachment no Congresso, o presidente se rendeu a quem manda no Congresso: o poder financeiro judeu.

O Congresso americano, não consultado por Trump, para bombardear as usinas nucleares do Irã, revelou-se partidário dos interesses da guerra de Israel, subproduto do poder militar americano, para dominar o Oriente Médio, rico em petróleo, com a supremacia do dólar.

 

NOVA ECONOMIA POLÍTICA IMPERIALISTA

 

Certamente, a nova política monetária americana vai se sintonizar com as demandas da guerra, disparadas pelos bombardeiros dos aviões cargueiros atômicos americanos para destruir o Irã.

Economia de guerra = expansão de gastos públicos, anti-equilíbrio orçamentário.

O discurso neoliberal no Brasil, diante da nova opção Trump, cairá de moda.

A ordem é gastar para garantir o poder de guerra tocada pela direita fascista.

O presidente do Banco Central americano, Jerome Powell, já sinaliza que a taxa de juro vai se estacionar nos próximos meses.

Trump aposta na guerra para aumentar a oferta de crédito interno e conquistar a opinião pública.

Expansão monetária é a tradução da opção Trump pela guerra, como arma para diminuir a taxa de juro e desvalorizar a dívida interna americana de 37 trilhões de dólares, a exigir pagamento de 9 trilhões de dólares, anualmente, em serviços.

Trump segue conselho de Adam Smith: dívida pública não se paga, renegocia-se.

Os bombardeiros americanos no Irã são as novas dívidas do Império para sustentar a guerra, no processo de reformar as dívidas velhas, caras etc.

A economia política de guerra entra em operação com Trump, junto com sua opção pela guerra contra o Irã, ao lado de Israel – na verdade, é guerra Irã-EUA contratada por procuração para Israel operar em nome dos interesses de guerra americanos no Oriente Médio, que passam a puxar a demanda global americana na disputa contra a China.

 

ABAIXO CONTROLE DO PETRÓLEO PELOS AIATOLÁS

 

Washington passa atuar diretamente para derrubar o regime dos Aiatolás, a fim de controlar o petróleo na região.

O Irã é aliado da China e o maior fornecedor de petróleo aos chineses.

Washington quer cortar esse cordão umbilical Irã-China, na comercialização do petróleo no Oriente Médio.

Só derrubando os Aiatolás, Washington pode evitar o fechamento do Estreito de Ormuz.

Os Aiatolás têm o controle de 30% do comércio de petróleo transitado no esteiro de Ormuz.

Se a Rússia, detentora da bomba atômica, apoiar os Aiatolás no fechamento de Ormuz, a economia capitalista pode entrar em infarto fulminante.

A instabilidade global explosiva abalaria toda a estrutura produtiva e ocupacional global dependente do petróleo, e o sistema capitalista entraria em xeque.

Os preços dos derivados aumentarão nas próximas semanas.

Os empresários já jogam o risco no preço das mercadorias.

A inflação aumentará, razão pela qual Trump pressiona Jerome Powell a não subir as taxas de juros nos Estados Unidos.

Haveria instabilidade financeira global, diante da maior necessidade de expansão dos gastos públicos com a guerra.

O mercado financeiro entraria em agitação e os poupadores correriam aos bancos.

 

CONTRADIÇÃO CENTRAL DO CAPITAL

 

A contradição que Powell vive é a de que baixar os juros, para satisfazer o apetite de Trump pela guerra, causa insatisfação nos jogadores das bolsas, que dependem dos juros altos para multiplicar sua lucratividade.

A contradição está no centro do sistema financeiro, no cenário da financeirização sob especulação desenfreada, no momento em que Trump entra na guerra.

 

CHINA-EUA X DEMOCRACIA

 

No fundo, o jogo econômico deixa de ser prioritário, para dar lugar ao fundamento político da crise, a contradição central: disputa ideológica da economia política chinesa x a da política americana.

A primeira apela para a organização política do Estado para a estabilidade econômica; a segunda, aprofunda a instabilidade econômico-financeira especulativa, favorecendo a anarquia estatal pró-guerra.

O poder financeiro, através da guerra, joga toda a sua força para manter o poder político mediante destruição institucional da democracia, como alternativa de hegemonia política.

A hegemonia financeira se transforma em hegemonia política.

Trump passou por cima do Congresso, para invadir o Irã; ou seja, acabou com a democracia, para prevalecer, primeiro a força; depois a paz, como defendeu Netanyahu.

Democracia, portanto, torna-se apenas expressão vazia da falência hegemônica cristã ocidental.

Essa é a vertente democrática que interessa o capitalismo de guerra: democracia vazia.

No cenário da guerra, a verdade é a primeira sacrificada.

Com a falência da ONU, a coordenação internacional deixa de existir e a palavra de ordem é, primeiro, a força; depois a paz.

Trump colocou em prática a força. 

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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