Belém acolhe o planeta que respira ofegante
Em novembro de 2025, a Amazônia sedia a COP 30, unindo o mundo pela vida planetária. Deixar "passar a boiada" fez muito mal ao país e ao mundo
Um menino e o rio - Sob o sol de Belém, Raimundo Nonato, de olhos brilhantes, mergulha os pés no rio Guamá. O cheiro de água doce e manguezal abraça o ar. Ele aponta uma vitória-régia, sua “rainha do rio”, flutuando serena nos igarapés. “Ela vive, mesmo com tudo contra”, sussurra, com a sabedoria de quem cresceu ouvindo a floresta. Em novembro de 2025, a COP 30 transformará sua cidade em um palco planetário, onde a Amazônia clama por vida.
A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP 30, ocorrerá de 10 a 21 de novembro de 2025, em Belém do Pará, coração da Amazônia, conforme anunciado pelo governo brasileiro. É a primeira vez que a região sedia o evento, um marco histórico.
A agência Reuters destaca que a escolha reflete a urgência de proteger biomas como a Amazônia, que abriga 20% da biodiversidade mundial. O planeta perde 10 milhões de hectares de florestas anualmente, segundo a FAO, enquanto o aquecimento avança 1,1 °C acima dos níveis pré-industriais, alerta o IPCC.
Nós, que compartilhamos este planeta, enfrentamos um desafio: ouvir a terra ou ignorar seu pulsar?
Sombras e vozes de Belém - Belém, com seus manguezais exuberantes e favelas vibrantes, é mais que um cenário. Os manguezais, presentes na Baía do Guajará, são vitais para a biodiversidade e a proteção costeira, mas estão ameaçados pela urbanização, segundo o MapBiomas.
Cerca de 57% da população paraense vive em assentamentos informais, aponta o Brasil de Fato. Sueli, artesã local, teme ser apagada por obras para a COP. “Querem uma cidade brilhante, mas esquecem de nós”, lamenta. A conferência promete justiça climática, mas o risco de desigualdades maquiadas paira, como a brisa antes da tempestade. Mas isso não é uma jabuticaba brasileira; acontece em Paris, Xangai, Chicago ou Frankfurt.
Na COP 29, em Baku, nações ricas prometeram US$ 300 bilhões anuais até 2035, segundo o The Guardian, mas países do Sul, como o Brasil, exigem US$ 1,3 trilhão. Em Bonn, em junho de 2025, as negociações travaram, relata a Folha. Ana Toni, secretária de Mudança do Clima, afirma: “Não queremos palavras, queremos futuro.”
A floresta que nos sustenta - A Amazônia, com suas raízes profundas, é o alicerce da vida planetária. Ela sequestra 2,2 bilhões de toneladas de CO₂ por ano, regula chuvas globais e sustenta 400 bilhões de árvores, segundo a WWF.
Em Belém, vitórias-régias florescem em igarapés como os do Parque Ambiental do Utinga, símbolos de resiliência. Marina Silva, ministra do Meio Ambiente, defende o fim do desmatamento, mas a revista Science critica a exploração de petróleo na foz do Amazonas, a 175 km do litoral. Proteger o meio ambiente é garantir que o planeta respire, que a água corra, que a vida persista.
O Brasil investe R$ 4,7 bilhões em infraestrutura para a COP 30, com recursos do Orçamento Geral da União, BNDES e Itaipu. O meio ambiente clama por justiça, e justiça exige que vozes como as de Sueli e Raimundo Nonato ecoem — dos ribeirinhos aos indígenas.
O Parque da Cidade, com 90% das obras prontas, será o coração da COP 30, segundo a imprensa paulista. Mas, nas periferias, o saneamento precário expõe desigualdades. É preciso cuidar mais que do meio ambiente — do todo ambiente. Que tal aprendermos algo com as populações originárias da região, os nossos indígenas?
Belém pode ser um espelho da esperança ou um reflexo de falhas. O aquecimento pode ultrapassar 1,5 °C até 2025, alerta a revista Nature, enquanto 70% das emissões globais vêm de combustíveis fósseis, segundo o IPCC.
O meio ambiente é o fio que conecta a humanidade à terra.
A COP 30, com 60 mil visitantes esperados, convoca-nos a agir, a ouvir o rio, a sentir a floresta.
Um pacto com a terra - A COP 30 não é apenas um evento; é um chamado à memória da terra. Raimundo Nonato sonha com sua vitória-régia florescendo. Sueli quer sua voz ecoando. Nós, que pisamos este solo, podemos reescrever nossa história.
Anseio para que Belém seja o começo de um pacto pela vida, onde cada passo na Amazônia ressoe como um compromisso com o planeta. Sinta, leitor, o murmúrio do manguezal: ele nos guia para cuidar, para proteger, para viver em harmonia.
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