Ana Maria Gonçalves chega para engrandecer a casa de Machado de Assis
Primeira mulher negra eleita para a ABL, Ana Maria Gonçalves transforma sua história de vida e resistência em literatura de impacto e renovação institucional
Aqui está o texto com correções gramaticais e ajustes estritamente necessários, sem alteração de conteúdo nem inclusão de informações novas. Ao final, listo as correções realizadas com suas justificativas:
Como escritor, afirmo com convicção: a entrada de Ana Maria Gonçalves qualifica a Academia Brasileira de Letras (ABL), e não o contrário. Nos últimos anos, a academia tem perdido brilho, diluindo a qualidade literária de seus ocupantes ao abrir espaço para figuras midiáticas com pouca bagagem literária significativa, como o atual presidente Merval Pereira, conhecido mais por suas aparições na TV Globo do que por obras marcantes, ou a economista Miriam Leitão, igualmente vinculada à grande mídia.
Também se observa a inclusão de personalidades notórias, mas não necessariamente destacadas nas letras nacionais, como a grande dama do teatro Fernanda Montenegro e o vibrante menestrel baiano Gilberto Gil, cujos talentos, embora admiráveis, não se ancoram na robustez da escrita literária.
Era mais que tempo de a ABL resgatar autores com uma produção instigante e significativa para a cultura nacional. A eleição de Ana Maria é um sopro de renovação, e há esperança de que, no próximo mês, um dos três maiores escritores vivos do Brasil, o “manau-árabe” Milton Hatoum – autor de obras exponenciais como Relato de um certo Oriente e Dois irmãos –, seja eleito, trazendo de volta a excelência literária. Nunca é tarde para que a academia retorne às suas origens, honrando as aspirações do Bruxo do Cosme Velho, Machado de Assis, quando a idealizou com seus contemporâneos, sonhando com um templo de letras vivas e profundas.
Um tremor cultural sacode a ABL – Ana Maria Gonçalves, a audaciosa mineira de 54 anos, foi eleita para a Cadeira 33, sucedendo o estimado gramático Evanildo Bechara, falecido em maio.
Este é um feito histórico: ela se torna a primeira mulher negra a ingressar na Casa de Machado de Assis, um marco que ressoa como um hino de resistência desde a fundação da instituição, em 1897. Uma ruptura que ilumina os corredores outrora sombrios de uma academia marcada por silêncios. Nascida em Ibip, em 1970, Ana Maria traçou um caminho único.
Após anos como publicitária em São Paulo, abandonou a carreira em 2002 e partiu para a Ilha de Itaparica, na Bahia. Lá, surgiu Ao lado e à margem do que sente por mim, obra independente que se esgotou pela força de uma divulgação inovadora na internet.
Mas foi com Um defeito de cor que ela ergueu um monumento literário.
Após cinco anos de dedicação – dois de pesquisa, um de escrita e dois de reescrita –, nasceu um romance de 951 páginas.
A trama acompanha Kehinde, menina negra arrancada do Reino do Daomé (hoje Benin) aos 8 anos e trazida como escravizada à Bahia.
Inspirada na líder da Revolta dos Malês de 1835, Luísa Mahin – mãe do abolicionista Luiz Gama –, a narrativa pulsa com a dor e a força de uma história esquecida.
Kehinde sussurra nas páginas: “Minha pele guarda o sal do mar que me levou, mas também o calor que me fez renascer.”
Em uma entrevista recente a uma jornalista, Ana Maria confessou, com os olhos marejados: “Era um livro que eu ansiava ler e não encontrei. Escrevi-o como um espelho para me enxergar como mulher negra num país escravocrata, racista e machista”.
Para ela, Um defeito de cor transcende o romance de formação – é sua própria alma desnudada: “Cada palavra foi um mergulho em memórias que não eram minhas, mas que agora carrego como um grito de liberdade”, refletiu.
A nova imortal adiciona: “Escrever foi plantar uma semente em terra árida; hoje, vejo florescer uma história que o Brasil precisa ouvir.”
Com voz firme, ela prossegue: “Minha caneta é uma ponte para o passado, um farol para o futuro. Quero que cada cicatriz de Kehinde seja um convite para que outros se vejam em mim.” Sua poesia flui: “Sou feita de sombras e luz, e cada linha que escrevo é um passo para curar o que foi silenciado.”
A entrada de Ana Maria na ABL, como a primeira mulher negra a ocupar esse espaço, é uma revolução silenciosa. Ela não apenas ocupa uma cadeira; ela a transforma, tecendo um tapete de esperança sobre as fissuras da história.
“Quero que meu lugar na academia seja um espelho para os invisíveis”, declarou, com emoção. “Que minhas palavras abram portas, como o mar abriu caminho para Kehinde, mesmo sob correntes.”
Com Um defeito de cor, ela prova que a literatura é um farol para vozes caladas.
“Escrevo para lembrar, para honrar, para plantar raízes onde só havia deserto”, conclui, com a serenidade de quem carrega um legado.
“Minha voz é um rio que carrega as lágrimas de muitas, mas também suas canções de luta”, acrescenta, com a força de uma poetisa que redefine o futuro.
Não é uma escrita cativante, envolvente e que nos seduz logo de cara?
Ana Maria não reescreve apenas a história da ABL – ela a redime, gerando uma narrativa de beleza e resistência que ecoa além das paredes.
O segredo é que Ana Maria escreve com a tinta da coragem. É a Ana Maria coragem que vem sacudir a monotonia da Academia Brasileira de Letras.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com [email protected].
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: