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Elisabeth Lopes

Advogada, especializada em Direito do Trabalho, pedagoga e Doutora em Educação

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A vassalagem da extrema direita e a resposta soberana do governo

Enquanto a extrema direita insiste em atuar como vassala de interesses estrangeiros, o Brasil progressista reafirma seu compromisso com um futuro soberano

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

Nesta semana, o Brasil sediou a 17ª Cúpula do Brics. Organismo que reúne 11 países membros: Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã numa articulação político-diplomática entre nações do Sul Global. 

Com pautas voltadas à cooperação em diversas áreas e objetivos estratégicos de inclusão e sustentabilidade, o Brics atua em favor de uma “ordem global equitativa”, rompendo com a lógica de subordinação imposta pelas antigas potências hegemônicas.

Ao término do encontro realizado no Rio de Janeiro, em 7 de julho, os países membros reafirmaram o compromisso "de respeito e compreensão mútuos, igualdade soberana, solidariedade, democracia, abertura, inclusão, colaboração e consenso”. 

Além da proposta de “cooperação política e de segurança; econômica e financeira; e cultural e interpessoal, a pretensão do bloco é fortalecer a “parceria estratégica” em ações “da promoção da paz, de uma ordem internacional mais representativa e justa, de um sistema multilateral revigorado e reformado, do desenvolvimento sustentável e do crescimento inclusivo”. Trata-se de um posicionamento coletivo em favor de uma nova governança global mais justa e representativa.

Esse esforço sinaliza uma mudança importante no cenário internacional. As proposições da Cúpula afastam-se da lógica de dominação de uma nação sobre as demais e se assentam em princípios de solidariedade e multipolaridade. Ainda que os desafios para a concretização desses compromissos sejam enormes, o simples fato de vislumbrarmos esse horizonte já é um respiro em meio a uma humanidade exaurida por guerras, competições predatórias e desequilíbrios profundos, marcas persistentes do unilateralismo imperial.

Nessa perspectiva, as disputas por hegemonia econômica, tecnológica e geopolítica, têm intensificado as tensões, sobretudo, com a decadente supremacia dos Estados Unidos. O estilo agressivo e arrogante do presidente Donald Trump denuncia o desespero do imperialismo americano diante da emergência de novas lideranças globais, como a China e, cada vez mais, o próprio Brasil. Como bem afirmou o presidente Lula, Trump age como se quisesse tornar imperador do mundo, delírio que não se sustenta diante da nova configuração multipolar.

A prova mais recente dessa tentativa de intimidação ocorreu justamente durante a realização da Cúpula no Brasil em 6 e 7 de julho. Trump provocou os membros do Brics por meios digitais ao ameaçá-los com sanções e diretamente ao Brasil ao manifestar seu apoio ao réu Bolsonaro: “O Brasil está fazendo algo terrível no tratamento do ex presidente da extrema direita Jair Bolsonaro [...] deixem Bolsonaro em paz”. No fundo, o que Trump fez foi destilar sua preocupação com o avanço do protagonismo multilateral do Brics e com a liderança progressista do Brasil nesse processo. A reação imediata do presidente Lula foi firme e necessária: “O Brasil não aceita tutela. Possuímos instituições sólidas e independentes. Ninguém está acima da lei. Sobretudo, os que atentam com a liberdade e o Estado de Direito”.

Sobre as ameaças tarifárias, Lula reafirmou a soberania dos países do Brics e criticou duramente a conduta irresponsável de Trump: “Se ele acha que pode taxar, os países também têm o direito de taxar. Existe a lei da reciprocidade.” Com essas declarações, o presidente brasileiro reafirmou o protagonismo do país no âmbito internacional e de sua liderança respeitada e defensora da democracia, ao mesmo tempo em que assinala a autodeterminação dos países.

Trump insiste na delirante ideia de tornar-se dono absoluto do mundo, apesar das oscilações da economia americana ameaçada por ele e por outros países, como a China, que emerge como uma grande potência que logo irá superar a pujança estadunidense.

O império em declínio, contudo, reagiu com mais hostilidade. Em 9 de julho, Trump publicou em rede social uma carta endereçada ao presidente Lula. No texto, além de anunciar uma tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos a partir de agosto, ele fez referências ao julgamento de Bolsonaro pela tentativa de golpe ao Estado de Direito, classificando o processo como “uma caça às bruxas” que deveria “acabar agora”. Uma tentativa clara de pressionar e impor recuo à justiça brasileira. 

Em sua costumeira truculência, Trump usou Jair como recurso retórico para rechaçar o fortalecimento do Brics, para impedir qualquer regulação das Big Techs no Brasil e, ao mesmo tempo, projetar seu interesse na eleição de um candidato da extrema direita para a presidência do Brasil, em 2026, que se submeta aos interesses do governo americano, agindo como seu preposto no comando do país.  

Em resposta a essa carta visivelmente aviltante e chantagista, o governo brasileiro escreveu algumas horas após que: “O Brasil é um país soberano com instituições independentes que não aceitará ser tutelado por ninguém”. Sobre o aumento unilateral de tarifas: “será respondido à luz da lei brasileira de Reciprocidade Econômica”. Acerca do trecho sobre a perseguição a Bolsonaro respondeu: “O processo judicial contra aqueles que planejaram o golpe de estado é de competência apenas da Justiça Brasileira e, portanto, não está sujeito a nenhum tipo de ingerência ou ameaça que fira a independência das instituições nacionais”. Quanto à menção da carta sobre a liberdade de expressão: “No Brasil, liberdade de expressão não se confunde com agressão ou práticas violentas. Para operar em nosso país, todas as empresas nacionais e estrangeiras estão submetidas à legislação brasileira”. (Disponível nas redes sociais).

A natureza dessa resposta demonstra que a soberania do país defendida por um governo progressista nunca será negociada e jamais se curvará às insurgências insanas de um governo autoritário que se considera superior aos demais.  

Enquanto isso, internamente, para a trupe bolsonarista, a atitude de Trump em favor de Bolsonaro caiu como uma luva frente a situação insustentável do inelegível diante do desfecho de seu julgamento na Suprema Corte. Eduardo Bolsonaro sentiu-se regozijado por colocar os interesses do pai acima das instituições e da soberania nacional. O padrão de atuação da família sempre foi o de comprometer o país inteiro para proteger seus próprios membros das consequências legais de seus atos.

Nesse mesmo movimento, Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo e provável candidato da Faria Lima à presidência em 2026, não hesitou em apoiar o ataque à soberania nacional, elogiando publicamente Trump em mais um gesto de submissão e antipatriotismo. É importante ressaltar que o estado de São Paulo será o mais prejudicado com o tarifaço de 50% imposto por seu ídolo. Ao agir assim, ignora o devido processo legal em curso no STF e reforça sua falta de compromisso com o Estado Democrático de Direito. 

É fácil compreender o alinhamento de Tarcísio ao estilo Trump de governar. Sua  atuação no governo de São Paulo é marcada por políticas que prejudicam os trabalhadores, especialmente os de média e baixa renda. A precarização dos serviços públicos essenciais, a entrega do patrimônio do povo a preços irrisórios e uma segurança pública sinalizada por violência seletiva contra pretos, pobres e periféricos demonstra o modelo autoritário e excludente que ele defende. 

Como bem apontou o ministro Fernando Haddad, ao comentar o apoio de Tarcísio de Freitas a Donald Trump: “Ou a pessoa é candidata à presidência, ou é candidata a vassalo”. Tarcísio assumiu de vez sua subserviência ao tentar obter autorização do STF para que Bolsonaro viajasse para os Estados Unidos com o objetivo de negociar com Trump a redução das tarifas. Com essa ideia tresloucada, revelou sua absoluta incapacidade de estar à frente não só do governo de São Paulo, como do país.

Essa postura, no entanto, não é um caso isolado. Ela reflete um cenário mais amplo que se aprofundou desde o golpe contra Dilma Rousseff, quando foi aberto espaço para uma onda de políticos desqualificados e descompromissados com o interesse público. A herança maldita deixada pelas gestões Temer e Bolsonaro alimentou uma avalanche de parlamentares inescrupulosos da direita oportunista e da extrema direita, que atuam exclusivamente ao favor de seus próprios projetos de poder.

A cada semana que passa assistimos descobertas de corrupção, de desvios do dinheiro público por meio da farra das emendas parlamentares. Soma-se a esse descalabro, a gestão neoliberal de governos da direita e extrema direita nas diversas unidades federativas com privatizações do patrimônio público e os atravessamentos regados por propinas em detrimento da qualidade dos serviços oferecidos à população.

Com pautas antipovo em conluio com a elite financeira, seguem com seus discursos populistas a espoliar qualquer medida que reduza a distância abissal entre possuidores e despossuídos.

Inspirada nas ações do governo Trump, a extrema direita brasileira tenta implementar aqui o mesmo receituário de retrocessos do governo americano, como: cortes em programas sociais, redução de impostos para os mais ricos e eliminação de incentivos à energia limpa e à violência anti-imigratória.  

Esse modelo excludente, além de retirar direitos da maioria, preserva e até amplia os privilégios de castas sociais que se autoconcedem benefícios escandalosos, sustentados por recursos públicos. Não é possível combater desigualdades mantendo intocados esses privilégios enquanto milhões vivem precarizados, sem acesso básico a direitos trabalhistas e previdenciários. O Brasil precisa romper com essa lógica perversa que protege poucos e abandona a imensa maioria. A indignação seletiva das elites, que demonizam programas como o Bolsa Família e propagam discursos odiosos contra as mulheres pobres, expõe sua hipocrisia. Ignoram os bilhões desviados em emendas e os luxos pagos com dinheiro público que alimentam os mais abastados.

A recente investida de Donald Trump denunciou definitivamente o papel vergonhoso da extrema direita brasileira e de muitos parlamentares do centrão que calaram e, nessa postura, agem como linha auxiliar dos interesses imperialistas, mesmo que isso signifique afrontar as instituições nacionais e comprometer os interesses nacionais. A submissão explícita dos bolsonaristas a um líder estrangeiro que ofende abertamente o Brasil revela o quanto colocam interesses pessoais acima da nação. 

Diante desse cenário, a firmeza do presidente do Brasil foi crucial. Ao responder com altivez às ameaças de Trump, Lula não apenas defendeu as instituições brasileiras, como reafirmou ao mundo que o Brasil não se curva a imposições externas ainda mais quando partem de um governo autoritário. A postura do governo brasileiro mostrou que soberania não se negocia e que o Brasil, ao lado dos demais países do Brics, caminha na construção de uma ordem internacional mais justa, baseada no respeito mútuo. Enquanto a extrema direita insiste em atuar como vassala de interesses estrangeiros, o Brasil progressista reafirma seu compromisso com um futuro soberano, democrático e solidário.



* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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