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Carlos Corrêa

Professor, consultor e pesquisador do Grupo de Estudos em Bioeconomia da Universidade Federal do Rio de Janeiro

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A Transição Energética e os Biocombustíveis

A biomassa é nossa fonte natural de geração de energia e seu desenvolvimentotecnológico pode ser nosso diferencial para o futuro

(Foto: REUTERS/Wolfgang Rattay/File Photo)

Quando o homem conseguiu controlar o fogo iniciou também a sua dependência de

fontes de energia. Inicialmente foi a biomassa que o atendeu, com pequenas incursões

na utilização de carvão, tufa e óleos minerais.

É no século XIX que acontece o apogeu do carvão, que vai durar até os anos 60/70 do

século seguinte. No final do século XIX se inicia a utilização da energia elétrica e a sua

universalização ocorre ao longo do século XX. No século atual, nossa dependência por

essa forma de energia é total!

Ainda no final do século XIX inicia-se a exploração e utilização do petróleo, que ganha

impulso ao longo das grandes guerras e passa a desbancar o carvão como fonte mais

importante de energia. Também ao longo do século XX, outras fontes de energias são

descobertas e passam a ganhar importância, com destaques para a energia nuclear, a

fotovoltaica, a eólica e os biocombustíveis, dentre outras.

É também no início do século XX que os motores a explosão ganham impulso e

contribuem para a consolidação dos combustíveis líquidos.

O século XX passa a ser o século do automóvel. As demandas por diesel e gasolina

crescem exponencialmente em todos as regiões do planeta: as cidades passam a ser

construídas para os automóveis!

A partir dos anos 70 do século passado, cidades em várias partes do mundo, passam a

ter uma queda importante em sua qualidade de vida em função da qualidade do ar que

seus moradores respiram, consequência dos gases emitidos pela queima dos

combustíveis fosseis. É também nessa época que acontece o primeiro choque do

petróleo, com uma importante multiplicação de seus preços.

É nesse momento que a humanidade começa a despertar para fontes de energias mais

limpas e competitivas: um século após o petróleo ter superado o carvão como principal

fonte de geração de energia, o mundo parece caminhar para uma nova mudança em

sua base energética.

No Brasil, tivemos o lançamento do Proálcool, programa do governo federal que visava

o crescimento da produção de etanol a partir da cana-de-açúcar, combinado com o

incentivo a produção de veículos com motores adaptados a esse biocombustível. O

programa promoveu o crescimento da agroindústria canavieira no Brasil, em especial

nas regiões Sudeste e Centro-oeste. Seu sucesso, entretanto, foi relativo, pois logo os

preços do petróleo voltavam a patamares mais baixos tornando quase impossível que o

etanol pudesse competir com seus derivados.

No final do século XX os cientistas chegam à conclusão que a queima de combustíveis

fosseis e a consequente emissão de gás carbônico (CO2) e de outros gases causadores

de efeito estufa, estão levando a um aquecimento do planeta, causando importantes

mudanças climáticas em todos os seus continentes. Medidas precisavam ser

implantadas urgentemente para estancar esse fenômeno!

Em nosso país, de forma voluntaria, uma revolução ambiental vinha acontecendo desde

os anos 70: não só com a experiência do Proálcool, mas também com a adição de etanol

a gasolina, substituindo boosters como o chumbo tetra-etila. Fomos evoluindo nessa

mistura e hoje a gasolina brasileira já contém 27% de etanol!

Outro grande avanço foi o advento dos motores bicombustível. Estou falando do motor

“flex” a gasolina/etanol: um motor que já equipa cerca de 70% da frota de veículos leves

do País e que pode utilizar gasolina e/ou etanol em qualquer proporção.

Outro importante avanço veio com a introdução do biodiesel em mistura com o diesel

oriundo do petróleo, proporcionando uma redução nos gases poluentes emitidos por

motores diesel. Somos expoentes no ranking da produção mundial de soja e proteína

animal, matérias-primas para o biodiesel.

Ao longo da última década a produção agrícola brasileira tomou um impulso

espetacular, com a consolidação de novas fronteiras, a utilização de novas variedades

mais resistentes e mais produtivas e com máquinas e equipamentos de altíssima

tecnologia, tornando o Brasil campeão de produtividade no campo.

Mais recentemente o país passou a produzir também etanol a partir do milho, que se

mostrou extremamente competitivo e que não para de crescer! Com o anúncio de novos

investimentos nessa área, estima-se que a produção nacional de etanol a partir do milho

evolua dos atuais 2,5 bilhões de litros, para mais de 3,3 bilhões de litros na próxima

safra, ultrapassando os 8,0 bilhões de litros na safra 2027/2028. Um crescimento

espetacular do setor, que conta atualmente com 17 unidades em produção.

Já a produção de etanol a partir de cana-de-açúcar deverá atingir na safra 2021/2022,

que se inicia, 28 bilhões de litros, mostrando redução em relação a safra passada,

motivado pela menor demanda em função da pandemia de Covid-19 e dos melhores

preços do açúcar. No entanto, essa redução não traz qualquer risco de

desabastecimento.

Debate-se hoje, em todos os cantos do nosso planeta, qual será a nova geração de

automóveis que substituirão os atuais. A Europa parece já ter feito sua escolha por

veículos elétricos, os EUA também. Em outras regiões as tecnologias que usam célula de

combustão e hidrogênio parecem ser os mais promissores. E o que acontecerá no nosso

país?

Acredito que a nossa transição energética no campo dos combustíveis líquidos, já está

desenhada. Para os veículos leves deveremos utilizar o etanol para gerar hidrogênio da

célula de combustível, com baterias menores e tornando-os extremamente econômicos

(35-38 km/l de etanol). Para os veículos com motores a diesel, minha aposta está na

substituição desse combustível por metanol, que será produzido a partir da eletrólise da

água, utilizando energia renovável (eólica e fotovoltaica) e CO2 da fermentação dos

açucares da produção de etanol. As refinarias do futuro estarão assim desenhadas e o

Brasil poderá estar muito bem-posicionado nessa transição.

A biomassa é nossa fonte natural de geração de energia e seu desenvolvimento

tecnológico pode ser nosso diferencial para o futuro: tanto na diminuição da

dependência de combustíveis fósseis quanto na liderança de seu desenvolvimento

tecnológico. A partir da biomassa, o Brasil pode construir sua própria história de

desenvolvimento tecnológico e assumir a liderança que lhe cabe em um mundo mais

sustentável.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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