A sabedoria do povo é desafiada de novo
“Lula e Haddad terão que convencer os brasileiros de que é hora de ir à guerra contra os super-ricos e o Congresso”, escreve Moisés Mendes
Esse é um alerta bíblico que sempre se renova: não se excedam na romantização da sabedoria popular, porque são muitos os casos dos que exageraram e acabaram se quebrando.
Quebram-se as idealizações, como também são frustradas as sabotagens contra o povo antes dadas como infalíveis. E o que temos hoje é o povo sendo testado mais uma vez, em momento grave e fora de período eleitoral, se é capaz de discernir entre quem o defende e quem conspira contra seus direitos e interesses.
Não é pequena a dúvida sobre as possíveis reações da população à decisão de Lula e de Haddad de pegar o megafone e gritar: o Congresso e os super-ricos são inimigos de vocês.
Dará certo? Agrega-se a essa a dúvida a interrogação sobre os efeitos políticos das investidas em direção contrária, da direita na Câmara e no Senado, dos jornalões, do agro e da Faria Lima, na tentativa de dizer ao povo que não é por aí, porque isso é luta de classes e nunca dá certo.
Teremos, depois de uma longa caminhada dos governos de Lula e Dilma em direção ao centro, desde a primeira eleição em 2002, um retrato da cara do povo diante das provocações para que olhe para a esquerda. Uma imagem que só vai aparecer mesmo em 2026, mas que começa a ser esboçada.
Depois de 22 anos da consolidação do lulismo – em meio a avanços e recuos, um golpe, uma prisão e o surgimento do bolsonarismo –, que cara tem o povo?
Que cara tem hoje a velha classe média que carregou as bandeiras do lulismo, até virar um camaleão com autoestima fragilizada, perdas, desilusões e ressentimentos? E o que pensa mesmo a nova classe média surgida dos governos do PT?
O megafone de Lula e Haddad conseguirá fazer chegar ao povo a mensagem de que é preciso reagir, antes que o centrão e a extrema direita destruam tudo o que é ou deveria ser da maioria dos brasileiros?
Teremos nos próximos dias, por inevitável, as primeiras testagens dos humores desse povo nas estranhas pesquisas do Datafolha. O instituto que pergunta até se o povo se incomoda com os próprios odores deverá ouvir as ruas para saber se o Congresso é mesmo o vilão.
Lula e Haddad estão certos, ou o melhor é apostar na hipnose do novo bolsonarismo moderado? Esse neobolsonarismo que talvez não negue vacina, como Bolsonaro negou, mas sonega direitos sociais e protege os ricos.
O problema, e só um deles, é que o povo mora nas cidades por onde circula a fartura das emendas de R$ 50 bilhões por ano das facções do Congresso. Algumas comunidades se consideram super-ricas.
Os povos de Itaqui, Massaranduba, Junco do Maranhão e Itapipoca podem desconfiar dos seus deputados em Brasília, se os prefeitos e os vereadores dizem que devem confiar? Como vão desconfiar, se prefeituras e Câmaras Municipais estão tomadas pela prosperidade da direita?
Não se frustrem os que esperam desconfianças, considerando-se que as Assembleias Legislativas dos Estados são controladas pelo poder de pastores, militares e donos dos bois que viraram deputados. Como enxergar o Congresso como uma deformação antipovo, se Câmara e Senado são a extensão ampliada do poder de cidades sequestradas por essa gente?
Para chegar ao povo, a mensagem de Lula e de Haddad sobre direitos e justiça tributária tem que romper a barreira de proteção da direita nas paróquias de todos os tamanhos, da grande Campinas à minúscula Kaloré, no Paraná.
As cidades estão empanturradas com a dinheirama das emendas. Empreiteiros, prefeitos, vereadores e todos os que compram e prestam serviços se refestelam em milhões que movimentam obras, desvios e todo tipo de falcatrua.
É para esse povo, que a direita nunca controlou com tanto dinheiro – e tanto suporte religioso das estruturas do ultra reacionarismo, no Congresso, em Assembleias, prefeituras e câmaras de vereadores –, que Lula e Haddad estão falando. Não vai ser fácil.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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