Lula fará primeira viagem à Argentina para cúpula do Mercosul com foco em agenda econômica, diz Mauro Vieira
Segundo o chanceler, reunião em Buenos Aires servirá para discutir avanços na agenda regional
247 - A próxima cúpula de presidentes do Mercosul, marcada para quinta-feira (3), em Buenos Aires, deve manter o foco nas pautas econômicas do bloco e evitar assuntos de caráter político. A avaliação é do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, que embarca nesta terça-feira (1º) rumo à Argentina, onde participará da reunião do conselho de ministros do Mercosul.
Essa será a primeira visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao país vizinho desde que Javier Milei assumiu a presidência argentina. Apesar da expectativa gerada pela presença dos dois líderes, Lula e Milei não devem se encontrar. "Há duas cúpulas por ano. Em algumas se discutem temas políticos, em outras, apenas a agenda do Mercosul. Desta vez, será muito rápido. O presidente Lula chega no dia 2, participa da reunião no dia 3, às 11h, e retorna às 13h", explicou Vieira ao jornal O Globo.
Vieira destacou que o encontro servirá para discutir avanços concretos na agenda regional, como a adesão da Bolívia ao bloco e as negociações externas com países como Panamá, Canadá, Vietnã e Indonésia. O chanceler também citou avanços no tratado com a União Europeia e a ampliação da lista de exceções tarifárias para permitir acordos individuais com países do Hemisfério Norte.
“Cada vez mais o Mercosul se consolida como uma área importante de livre comércio, com infraestrutura relevante e população expressiva. Há muito interesse internacional no bloco, e precisamos analisar bem as oportunidades”, afirmou o ministro. Questionado se Lula pretende visitar a ex-presidente argentina Cristina Kirchner, atualmente em prisão domiciliar, Vieira foi direto ao afirmar que “não há nada previsto na agenda”.
Além da reunião do Mercosul, Mauro Vieira comentou a próxima cúpula do BRICS, que acontecerá nos dias 6 e 7 de julho no Rio de Janeiro. Ele admitiu a possibilidade de inclusão, na declaração final, de uma posição do grupo sobre os recentes ataques a instalações nucleares iranianas, ainda que sem menção direta a Estados Unidos ou Israel.
“É natural que esse tipo de tema possa ser inserido. Estamos trabalhando em um documento abrangente, com ênfase em áreas como saúde e transações comerciais entre os membros”, disse.
Vieira rechaçou a ideia de que a ausência dos presidentes Xi Jinping (China) e Vladimir Putin (Rússia) esvazie a reunião. “Xi não virá por motivos de agenda. Mas o primeiro-ministro Li Qiang estará presente, e o presidente chinês já esteve várias vezes no Brasil. Quanto a Putin, sua ausência se deve ao mandado do Tribunal Penal Internacional”, pontuou.
O chanceler também criticou duramente a decisão da Otan de elevar os gastos militares para 5% dos orçamentos nacionais, lembrando que em 2023 o mundo já destinou US$ 2,7 trilhões à defesa. “Enquanto isso, faltam recursos para combater a fome e enfrentar as mudanças climáticas. Os compromissos de financiamento assumidos desde a COP 15 não foram cumpridos”, lamentou.
Na entrevista, Vieira também comentou a ameaça feita pelo senador estadunidense Marco Rubio de impor sanções ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), por meio da chamada Lei Magnitsky, que pune violações graves de direitos humanos “Não sei que sanção é essa. Sanção sobre o quê? A legislação brasileira é aplicada no Brasil, e será e continuará sendo aplicada”, disse o diplomata.
Para o governo Lula, a legislação americana não pode ser aplicada de forma extraterritorial. “A Lei Magnitsky deve valer dentro dos Estados Unidos”, afirmou. Ao comentar a relação com os EUA, Mauro Vieira reiterou que o diálogo entre os dois países é “muito bom, constante e condizente com a qualidade de uma relação de mais de 200 anos”.
Vieira evitou dar detalhes sobre a infraestrutura que será disponibilizada para a COP30, marcada para acontecer em Belém (PA), mas afirmou que a logística está sendo tratada pelo governo federal. Segundo ele, cabe ao Itamaraty liderar as negociações diplomáticas e políticas do evento.
O ministro também antecipou que será lançado em breve o TFFF – Tropical Forest Forever Founding, ou Fundo de Florestas Tropicais para Sempre. “É uma iniciativa inédita, liderada pelo Brasil em parceria com os Congos e a Indonésia”, revelou.
❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com [email protected].
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: