HOME > América Latina

Ex-chanceler da Colômbia buscou apoio de Trump para derrubar Gustavo Petro

Álvaro Leyva tentou articular com republicanos nos EUA uma pressão internacional pela saída do presidente colombiano

Presidente colombiano, Gustavo Petro - 11/03/2025 (Foto: REUTERS/Luisa Gonzalez)
Otávio Rosso avatar
Conteúdo postado por:

247 - O ex-chanceler colombiano Álvaro Leyva articulou, nos bastidores, uma tentativa de derrubar o presidente Gustavo Petro com apoio de aliados do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A revelação foi feita pelo jornal espanhol El País, que teve acesso a áudios gravados durante reuniões de Leyva com interlocutores políticos nos EUA. 

As conversas, que ocorreram há cerca de dois meses, indicam que o ex-chanceler tentou envolver congressistas republicanos, como Marco Rubio e Mario Díaz-Balart, numa manobra que previa pressionar internacionalmente o governo colombiano.

De acordo com fontes ouvidas pelo El País, Leyva dizia ter “todas as ferramentas” para executar o plano e garantir que França Márquez, atual vice-presidente, assumisse o cargo. Em uma das reuniões realizadas em abril, ele teria afirmado. “Contava com evidências de que Petro não podia seguir exercendo o cargo e que, em caso de avanço, o presidente não teria capacidade de resposta. A ajuda dos americanos era muito importante.”

Nos áudios obtidos pela reportagem, Leyva, de 82 anos, acusa Petro de comportamento errático e de ter problemas graves com drogas. Ele também aponta a necessidade de um “grande acordo nacional”, envolvendo atores armados e civis, incluindo o ELN e o Clan del Golfo, para efetivar a saída do presidente.

“Temos que tirar esse cara. Presidindo as eleições de 2026? Isso não pode acontecer. O país vai pelo ralo”, afirma Leyva, em gravação com interlocutor não identificado.

A movimentação envolveu ainda seu filho, Jorge Leyva, e reuniões com congressistas influentes nos EUA, como Mario Díaz-Balart e a tentativa de contato com Carlos Antonio Giménez, ambos da Flórida. Leyva alegou ter conexões diretas com figuras-chave do Partido Republicano:

“Estive com um cara de primeira linha: Mario Díaz-Balart. Os Díaz-Balart estão por trás do secretário de Estado”, diz um trecho das gravações.

Paralelamente, o ex-chanceler iniciou uma campanha pública contra Petro, publicando cartas nas redes sociais nas quais acusava o presidente de dependência química e insinuava que sua principal assessora, Laura Sarabia, o ajudava a manter o vício. Petro e Sarabia rechaçaram as alegações, classificando-as como difamações.

Nas gravações, Leyva sugere ainda que a ex-jornalista e atual política Vicky Dávila poderia ser uma “interlocutora válida” para articular o movimento, e cogita incluir o precandidato Miguel Uribe — baleado no início de junho — numa coalizão para dar legitimidade ao plano.

Os áudios chegaram às mãos do serviço secreto colombiano e foram ouvidos por Petro em seu gabinete. Segundo fontes do Palácio presidencial, o presidente ficou extremamente irritado e, em discurso posterior, acusou Leyva de planejar um golpe de Estado, embora sem dar detalhes públicos. Leyva, por sua vez, deixou o país e foi a Madrid, alegando preocupações com sua segurança.

As gravações ainda indicam possível envolvimento da vice-presidente França Márquez. Leyva afirma que ela estaria “jogada” na estratégia e lê mensagens trocadas com ela após um episódio tenso durante um Conselho de Ministros transmitido ao vivo:“Segue na minha mente com mais força. Muita firmeza. Zero fraqueza”, teria escrito Leyva. Márquez respondeu: “Seguiremos firmes para cumprir a promessa com o povo colombiano.”

Após ouvir os áudios, Petro confrontou Márquez, que negou qualquer conspiração. “Foi um momento de enorme tensão entre eles. Ele disse sentir-se traído. Ela respondeu que não agiu pelas costas dele”, disse uma fonte presente na reunião. No entanto, Márquez recusou-se a fazer um desmentido público, e a relação entre os dois, já desgastada, praticamente se desfez.

Álvaro Leyva, que foi nomeado chanceler por Petro em 2022, era considerado um aliado estratégico nas negociações de paz com grupos armados e na reaproximação com a Venezuela. Sua saída do governo, no entanto, ocorreu em novembro de 2024, quando foi inabilitado pela Procuradoria por cancelar irregularmente uma licitação de passaportes, atendendo a um pedido do próprio presidente.

Sentindo-se injustiçado e excluído, Leyva teria iniciado uma movimentação própria para retornar à cena política, primeiro tentando liderar a construção de um “acordo nacional” e, depois, buscando aliados externos para pressionar pela saída de Petro — um plano que fracassou.

❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com [email protected].

✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

Rumo ao tri: Brasil 247 concorre ao Prêmio iBest 2025 e jornalistas da equipe também disputam categorias

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Cortes 247

Relacionados

Carregando anúncios...
Carregando anúncios...